ARTE
"A Arte é a mentira que nos ajuda a ver a verdade"
Pablo Picasso
Aventura, arte, literatura, coisas da vida, banalidades e curiosidades
Falcão Peregrino (nome científico Falco Peregrinus) ou Falcão Andarilho, como é designado em grego e latim, é considerada a ave mais veloz do mundo. Ave de rapina, pode atingir os 320 km/h, habitando desfiladeiros ou, em meio urbano, edifícios altos. Morcegos, pequenas aves que derruba com as garras em voo picado, matando-as com o bico, peixes a insectos fazem parte da sua dieta alimentar. É uma ave magnífica.
Desde sempre tive fascínio pela magestosidade das aves, do formato dos seus corpos e da aerodinâmica do seu corpo. Tudo é perfeito e maravilhosamente deslumbrante. O homem procurou e tentou, imitando as aves, dominar o ar desafiando a força da gravidade. De desastre em desastre, alcançou um tal desenvolvimento tecnológico, que lhe permitiu, efectivamente, competir com estes seres proporcionando momentos de inigualável prazer.
Balão, paraquedas ou parapente, entre outros, são meios que permitem desafiar os céus e nem todos os têm no sítio, arranjando a necessária dose de coragem para tomar tal decisão. Porém, não foi o meu caso. De facto, ambicionei sempre desafiar o vazio e deixar-me cair nos braços do Criador. Um belo dia do corrente mês de Maio, porque o dia estava perfeito, foi o dia V de Victória. Rumei, com outros camaradas navegadores, à procura do Adamastor dos ares. Tranquilidade foi o que me acompanhou durante a viagem até pôr os pés dentro daquele pequeno monstro de ferro trepidante que me elevou junto Dele. Chegado o momento da verdade, senti alguma apreensão, que foi aumentando à medida que os precedentes foram caindo, um após outro e eu era empurrado para a goela do inimaginável. Junto à porta obrigaram-me a pôr de joelhos. Só faltava rezar! Mas não tive tempo: senti-me arrancado de mim, transposto para outra dimensão! de olhos esbugalhados e rosto despregado, tornei-me peregrino do ar. Entre mim e o resto nada restava se não eu. A 200 km/hora me aproximei do destino final, era fatal como o destino. A sensação era indescritível, o impacto da deslocação do ar brutal! nesta altura era desfrutar extasiado os poucos segundos que me separavam da abertura do paraquedas. Acabou por acontecer, como espectável e o mundo passou ao ralenti. Ouvi a voz do instrutor, regressei à realidade, a sensação era diferente, o mundo jazia a meus pés e era eu que me espantava com a beleza da paisagem e do encanto daquelas planícies salpicadas de verde e castanho. Controlei o voo para a esquerda e depois com um loop para a direita que me deixou sem fôlego e me revolveu o estômago.
Aterrei e com os pés bem assentes na terra, abençoei todos os seres alados deste planeta, imaginando-me renascido com um par de asas incrustado no dorso. Um dia vou voar, um dia vou voar ...
João Andarilho
SÃO JOÃO "23.6 À meia noite de hoje (ontem) acendem-se os fogos. A multidão reúne-se em redor das altas fogueiras. Nesta noite limp...