segunda-feira, 5 de novembro de 2018



O Maior Enigma da História da Arte Portuguesa

"No entanto, nenhum mestre espanhol do século XV pintou um políptico de uma riqueza, de uma monumentalidade e de um requinte comparáveis àqueles que deu prova o português Nuno Gonçalves, que foi não somente o maior mestre português de todos os tempos, mas também um dos melhores pintores do século (…) A pintura mostra unicamente seres humanos providos com atributos identificáveis: armas, cordas, livros e relíquias, sem que seja sugerido o mínimo contexto ou a mínima situação. Mas a variedade, a força e a expressão dos rostos, a diversidade das qualidades sociais, psicológicas e intelectuais, das indumentárias, dos gestos e dos comportamentos são tais que gerações de investigadores e críticos se aplicaram a estudar e a decifrar o conteúdo múltiplo da obra"

Estas linhas do conceituado historiador de arte polaco Jan Bialostocki (1921-1988), condensam bem o carácter aparentemente insolúvel do maior enigma da História da Arte Portuguesa.



OS PAINÉIS DE NUNO GONÇALVES

A sua datação poderá recuar um quarto de século cerca de (1470 para 1445) reforçando-lhe assim o seu estatuto de peça excepcional e inovadora no panorama da Arte Nova que se afirmou na Europa de meados do século XV. Com efeito, no livro Os Painéis de Nuno Gonçalves (Jorge Filipe de Almeida e Maria Manuela Barroso de Albuquerque, Editorial Verbo, 2000 e 2003) foram identificados na bota e no botim de duas figuras em primeiro plano retratadas no Painel do Infante, símbolos que são com verosimilhança as iniciais do pintor Nuno Gonçalves e o ano de 1445. A aceitação criteriosa desta leitura permitirá ao políptico passar de obra atribuída a Nuno Gonçalves a obra autógrafa deste pintor português. 

Facto não menos importante, a data de 1445, anterior cerca de um quarto de século ao período maioritariamente defendido na historiografia da arte portuguesa, possibilita e aconselha uma reinterpretação iconográfica da pintura, a qual foi empreendida na obra acima citada. Esta nova iconografia, que retoma em parte a tese defendida por José Saraiva em 1925, permite identificar nos principais retratados no políptico os filhos de D.  João I, aqueles mesmos que Camões designou de "Ínclita Geração".

Matilde Sousa Franco
Jorge Filipe de Almeida
4 de Março de 2011

João Picassus

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