1975 (II)
Sundu ia maié
"A puta da professora de matemática pôs os retornados na fila mais afastada das janelas, nos lugares com menos luz. Deve pensar que somos como as rosas da mãe que murchavam se não lhes dava o sol, deve ser isso. Um dos retornados que responda, era o que faltava, a puta nunca diz os nossos nomes, um dos retornados que responda. Era o que faltava, nunca abro a boca. O retornado da cadeira do fundo que responda, insistiu a gaja, estava mesmo a querer farra. Custa assim tanto decorar o meu nome, se me chamasse Kijibanganga ainda tinha desculpa, mas Rui, porra, é um nome fácil e mesmo que me chamasse Kijibanganga, a puta tinha obrigação de decorar".
Excerto do Livro "O Retorno" de Dulce Maria Cardoso
Ao tempo da descolonização foi muito forte o sentimento de rejeição e descriminação a que os refugiados das ex:colónias, nomeadamente de Angola, foram sujeitos por parte dos portugueses metropolitanos. Ainda hoje subsistem resquícios desses tempos muito embora o tempo trate de sarar as feridas desse tempo.
João Passado dos Carretos
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