O AVIÃO
O leitor, se tiver a minha idade, ainda certamente se lembrará do famoso avião estacionado junto à 2ª circular, que servia como bar de alterne e que aí funcionou nessa qualidade durante largos anos.
Pois bem, a sua história é recambolesca. Segundo pesquisei, tratava-se de um aparelho Convair 880, de matrícula americana, proveniente de Sarjan, nos Emiratos Árabes Unidos. Pelos vistos era uma raridade este tipo de avião, uma vez que apenas foram construídos 65 exemplares, não tendo resistido à melhor performance da concorrência na altura.
Um belo dia, em Março de 1980, aterrou no ex: Aeroporto da Portela, actual Aeroporto Humberto Delgado, no parque "F", somente com a tripulação. Mais nada trazia e era um avião civil. Ali ficou bastante tempo e nunca mais se soube do rasto da sua tripulação.
A empresa fretadora pretendia proceder a "carregamento não específicado" que, mais tarde se veio a saber ser material de guerra (excedente das nossas forças armadas da guerra no ex: ultramar).
O problema é que o avião era civil e, devido a Portugal ter assinado a chamada Convenção de Chicago de 1944, que proibia o transporte de material militar em aviões civis, a operação foi abortada pelo então PM Sá Carneiro.
O Avião acabou por sair do aeroporto, em direcção aos EUA, num dia 4 de Maio, não se sabendo como, sem licenças e sem terem sido pagas as dívidas das taxas de estacionamento.
Já durante o voo, o comandante teve a notícia de que, misteriosamente, todas as empresas envolvidas no negócio tinham deixado de existir e, como tal, não estava autorizado a aterrar neste país.
Assim, o comandante decidiu regressar à Portela, estacionar o Convair no parque tão bem seu conhecido e desaparecer.
Ali ficou a apodrecer, ninguém queria pegar nele, até que a administração do aeroporto, sem esperança de receber nada por ele, decidiu fazer um leilão.
Apareceu então um empresário da noite que arrematou o avião e, obtidas as necessárias licenças, foi autorizado a aterrar no outro lado da Segunda Circular, tendo sido transformado num bar de alterne, de nome "O Avião", que ali ficou por muitos anos e que era glosado pelo tipo de actividade que ali era praticado.
Há quem lhe chamasse o "Tolan" da Segunda Circular. Mas o "Tolan" é outra história que fica para outra ocasião.
João El Avioncito
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