PENICHE, TERRA DE GENTE BRAVA
Tal como outras terras do nosso litoral, Peniche é feita de gente brava temperada pelo sal do mar e queimada pelo sol desde o seu nascer até ao seu pôr. A necessidade e a oportunidade proporcionadas pelo mar fizeram deste povo gente de mar, enfrentando e desafiando os perigos que representa, mas absolutamente conscientes dessa irreversibilidade.
Desde o tempo dos romanos que os povos que aqui habitavam pescavam e armavam as suas redes, com os pesos de rede fabricados em cerâmica ou ossos de baleia, de que é exemplo as amostras depositadas na Igreja de São Leonardo na vila medieval da Atouguia da Baleia, comprovando o longo historial da faina piscatória neste mar.
A pesca é, assim, desde sempre, a actividade principal do concelho e com ela, o dealbar do século XX deu origem a actividades paralelas, tais como a congelação, a produção de farinhas animais ou a produção de conservas, esta com especial significado económico na região com o advento de cerca de duas dezenas de fábricas especializadas na transformação e conservação da sardinha.
Tudo isto potenciou a criação de uma forte indústria de construção naval, assente em estaleiros localizados no exterior das muralhas da cidade.
Das minhas visitas a Peniche fico especialmente fascinado pela tradição da salga e secagem do peixe ao sol. Salgados e secos naturalmente, em estendais, assim conservam todas as propriedades do peixe fresco. Constituíam uma reserva alimentar e, na falta de refrigeração, uma maneira de conservar o alimento e comercialização para outras regiões.
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Foto do autor |
Para documentar esta típica actividade, fui encontrar o Ti Pescador (assim o baptizei), junto ao Forte de Peniche, em plena actividade. Ti Pescador, velho pescador desde que nasceu, reformado da pesca há 24 anos, bravo do mar, bravo da terra, herói do mar, penicheiro nobre povo.
João Andarilho