sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

 

CORRO LOGO EXISTO!


É difícil explicar porque corro, melhor, porque não paro de correr! De facto, comecei a correr logo que fui parido, com aqueles movimentos de pernas que todo o recém nascido desenvolve desde o primeiro estágio da sua existência. Tenho memória da primeira vez que corri a sério e em ambiente competitivo. Se não me atraiçoa terá sido no ano  de 1971, andaria eu na 4ª classe e a prova teve lugar no mítico Estádio dos Coqueiros em Luanda, no decurso de um torneio desportivo envolvendo estudantes da cidade capital. Seriam 800m ou 1200m? não me recordo. De marcante ficou ter acabado de rastos, com os bofes de fora, prova concluída e com vontade de nunca mais calçar um par de ténis.

O tempo mostrou que não poderia estar mais errado. Décadas depois, já com 35 ou 36 anos, voltei a experimentar o prazer da correr, de malhar no asfalto, em terra batida ou enlameada. Esse prazer surgiu naturalmente e, desde então, não mais parei. São incontáveis os milhares de quilómetros já palmilhados, entre treinos diários ou bi-diários, provas de 5000m, 10000m, 21,097m (meia maratona)  ou 42,195 m (maratona).

 Para alguém aficionado do sofá e da pipoca açucarada pode parecer estranho e fatigante observar esta gente que corre ao frio, à chuva e ao sol, desafiando o asfalto ou fintando os acidentes dos caminhos e dos trilhos. 

O prazer de correr é algo que não consigo explicar. O esforço, a dureza do percurso, a distância e o espírito competitivo fazem-nos seguir. O treino pode ser realizado individualmente ou acompanhado e há vantagens e desvantagens em ambos casos. Em companhia sofre-se menos pese embora a intensidade do treino possa ser maior. Em competição no meio de centenas ou milhares de companheiros, a adrenalina convida, mesmo que inadvertidamente, à obtenção da performance que não esperávamos. 

A minha primeira maratona fi-la com 50 anos, em 2012, na Maratona de Lisboa, então com um percurso quase inteiramente delineado dentro do perímetro citadino. Entrei confiante e a primeira metade foi feita num ritmo confortável mas mais forte do que seria aconselhado. Daí que, por volta do k 28, as forças faltaram e subir aquela Almirante Reis até ao Areeiro fez miséria. A meta, 42,195 k depois, estava instalada no tartan da pista do Estádio 1º de Maio, junto do qual se deu o tiro da partida. Estava estoirado e o meu pensamento nos instantes finais foi: "foi a primeira e vai ser a última!", tanto que me esqueci de receber a medalha, raios! De facto, foi a primeira mas a última não foi e lembro-me que após o banho retemperador nasceu o bichinho das longas distâncias, nasceu em mim o homem da maratona.

De lá para cá foram mais 19, em Portugal e por essa Europa e cada uma motivadora da próxima. Toda esta alegria e vontade de fazer mais e melhor teve, também, como espírito alavancador o companheirismo dos grupos onde me integrei nos treinos e em competição, o "Correr Lisboa" de Lisboa e os "Tálento pra Correr Team", da Lourinhã. 



Em jeito de remate posso afirmar que correr foi uma das boas decisões tomadas na minha vida. Para além de proporcionar uma melhoria do estado físico, ajudou-me no aspecto mental e formatou-me no capítulo da disciplina. Para se conseguir algo mais é necessário abnegação e disciplina e isso a corrida trouxe. 

Com o advento desta maldita pandemia Covid 19, já lá vai um ano e com a interdição da competição em Portugal, na Europa e no resto do mundo, os diversos confinamentos e exagerados estados de emergência, a motivação para o treino tem tido altos e baixos. Tenho procurado não me desleixar quanto à preparação normal e semanal. Fico feliz por ter acabado por realizar mais Kms corridos no ano de 2020 (ano horribilis) do que no ano anterior. Foi um bom sinal. Sinto também que, com a idade, a manutenção das marcas e ritmos é cada vez mais difícil, é a lei da natureza, estou ciente apesar do desconforto emocional que acarreta. C´est la vie!

Enquanto me for permitido continuarei a correr, a trotar ou a caminhar e aquilo que me dói, hoje, é não perspectivar o momento em que todos voltaremos à normalidade nas nossas vidas, ao convívio com os nossos companheiros e à alegria do pelotão.

Bons treinos companheiros!

João Andarilho



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