CABUL
"... Em 1847 os inglezes, "por uma Razão d'Estado, uma necessidade de fronteiras scientificas, a segurança do imperio, uma barreira ao dominio russo da Asia..." e outras cousas vagas que os politicos da India rosnam sombriamnente, retorcendo os bigodes - invadem o Afgahanistam, e ali vão aniquilando tribus seculares, desmantellando villas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; collocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e logo que os correspondentes dos jornaes teem telegraphado a victoria, o exercito, à beira dos arroios e nos vergeis de Cabul, desaperta o Corrame, e fuma o cachimbo da paz... Foi assim em 1847! Ha-se ser assim em 1880...
...E quando por alli aparecer, enfim, o grosso do exercito inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, ecoando-se espessamente, por entre a garganta das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa barbara rola-lhe em cima e aniquila-o... Foi assim em 1847! Ha-se ser assim em 1880...
... E de tanto sangue, tanta agonia, tanto luto, que resta por fim? Uma cançao patriótica, uma estampa idiota nas salas de jantar, mais tarde uma linha de prosa n'uma pagina de crónica... Consoladora philosophia das guerras!..."
Cartas de Inglaterra, Eça de Queiroz
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