quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

 

FUGA, MAS DEVAGAR...



Vinte e Dois de Janeiro do Ano da Graça de Nosso Senhor Todo Poderoso de Mil Oitocentos e Oito. Determinou-se, por decreto real, pressuponho, a debandada geral de Sua Majestade, Rainha D. Maria I, do Príncipe Regente D. João VI, de Viscondes, Viscondessas, Duques e Duquesas e mais cerca de quinze mil almas privilegiadas do Reino de Portugal, em direção à colónia portuguesa do Brasil, em razão da entrada no Reino das tropas napoleónicas. O medo (e quem tem cu tem medo) foi de tal forma, que se transformou em pânico, gerando uma autêntica correria desta gente em direção às naus acostadas. O desespero foi tal que e para manter boa aparência, sua Majestade Real, também chamada de Louca, arfante, terá gritado, lucidamente: " Não corram tanto que assim parece que estamos a fugir!"´


João Andarilho


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

 

REGRESSO 



Entrou o novo velho inquilino. Qual elefante numa loja de porcelana. Prometeu não se meter com a vizinhança do quarteirão e acabar  com os conflitos. Cheio de boas intenções, que o digam os panamenhos e os da terra de grone... Está prenhe o mundo.


João Andarilho 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

 

RESIGNAÇÃO (título meu)




Tive de aceitar...


Aceitar o tempo - esse

mistério esquivo que foge à

minha compreensão.

Aceitar que a eternidade é um

enigma para a mente mortal.

Que meu corpo, frágil e

efémero, não é imortal.

Que ele envelhecerá, lentamente.


Tive de aceitar que somos 

feitos de memórias,

mas também de

esquecimentos.

De desejos não realizados,

ruídos e silêncios.

De sussurros fugazes e

noites estreladas,

tecendo histórias em

detalhes subtis.


Tive de compreender que

tudo é passageiro,

que nada dura para sempre, 

que meus filhos um dia

voariam,

esculpindo seus próprios 

caminhos, longe de mim.

Eles nunca me pertenceram,

como imaginei por um 

instante.

Sua liberdade para ir, vir e

escolher

era tão preciosa quanto

o amor que eu nutria por eles.


Tive que aceitar que varrer

minha calçada todas as 

manhãs

era só um doce engano.

Um gesto para convencer-me

de que aquele pequeno canto

do mundo

era meu, quando nunca foi.

Minha casa, meu abrigo -

um tecto transitório que, um

dia, abrigará outra vidas, 

outras histórias.


Tive de compreender que

meu apego às coisas,

aos seres, aos lugares,

só tornará mais doloroso o

momento de dizer adeus.

As árvores que plantei,

 as flores que cuidei,

os pássaros que eu ouvi cantar

-

todos estavam apenas de 

passagem, 

assim como eu.


Tive de aceitar meus defeitos,

minha fragilidade,

minha condição de ser fugaz,

condenado a desaparecer,

enquanto a vida continuará 

fluindo,

como um rio indiferente à 

minha  memória.


E tive de aceitar que, um dia,

eu seria esquecido.


Por isso, cuidemos da nossa 

alma,

pois ela é a única coisa

que verdadeiramente nos 

pertence.


Sílvia Schmitt


  SÃO JOÃO   "23.6 À meia noite de hoje (ontem) acendem-se os fogos. A multidão reúne-se em redor das altas fogueiras. Nesta noite limp...