sexta-feira, 4 de janeiro de 2019



NAÇÃO VALENTE


… e imortal. Brava nação de tão grandes homens,  honrada,  que soube conquistar a sua independência, primeiro aos sarracenos e depois até quase aos nossos dias, aos castelhanos. Hoje já não somos independentes, somos um protetorado alemão. 



Verdade? Não, tudo mentira, com excepção da última parte do último parágrafo. Portugal nunca foi uma grande nação tudo por culpa da ganância das suas fracas lideranças e dos regimes despóticos que a governaram. 



Mas a nossa história nada tem a ver com as mentiras que nos contaram ao longo dos tempos nas nossas escolas. Portugal não «nascera do conselho que Deus, em boa disposição, dera num dia de 1139 a Afonso Henriques, o primeiro rei.», segundo refere J. Rentes de Carvalho no seu "Portugal a Flor e a Foice", nem, « desde então, cada vez que, por descuido ou boa-fé, o país se encontrava à beira do desastre, a intervenção divina nunca se tinha feito esperar, o Senhor aparecendo pessoalmente aos reis ou, como em 1917, delegando Nossa Senhora de Fátima para proteger Portugal, e através dele, o Mundo, contra o dragão comunista.»
Mas a façanha dos heróis não se ficava por aqui, como « o que se deixou esmagar pelas portas dum castelo para que os companheiros, aproveitando a abertura assim feita, o pudessem tomar aos mouros. Outro, a quem numa batalha o inimigo tinha decepado os braços, segurara a bandeira com os dentes, dando a que os camaradas, acudindo, pusessem a  alvo o símbolo sagrado. Um terceiro a quem os espanhóis incitavam a que traísse, optara pela alternativa de ser frito em azeite».



«Alguns feitos eram mencionados como dignos de pasmo, outros dados em exemplo. Um infante, feito prisioneiro pelos sarracenos, tinha morrido em cheiro de santidade. Uma rainha Isabel, a quem o marido acidamente censurara o tamanho das esmolas, adquirira do Alto o poder de transformar os pães em rosas, escapando assim à cólera do soberano, quando este a apanhava em flagrante delito de prodigalidade. Outro rei, Pedro, o Cru, mandara vingar o assassinato da amante (a que depois de morta foi rainha), ordenando que o coração dos assassinos lhes fosse arrancado pelas costas e depois assado. Alguns desvairados cronistas relatam que o monarca, assistindo à aplicação da sentença, mandou trazer sal e azeite, na firme intenção de levar a antropofagia por diante.»


Deus deitara pessoalmente a mão ao leme das naus de Vasco da Gama, para que este não se enganasse na rota para a Índia e assim levasse a esses longes a fé de Cristo e a fama dos portugueses. Brincalhão, também, o Altíssimo deixara que Pedro Álvares Cabral se perdesse e, enquanto o dito encontrava a rota do Oriente, fez-lhe aparecer o Brasil diante das caravelas.»



Era assim que era dada a História de Portugal por força da limitação que lhes ditava o programa oficial e a vigilância do reitor. Aos professores, temerários, lhes não era permitido ultrapassarem as barreiras.

João Andarilho

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