terça-feira, 19 de fevereiro de 2019




NAIF


A seguinte passagem inscrita na desconcertante obra de Camilo José Cela, "A Colmeia", faz-me imaginar um paralelismo com as esculturas de Botero (que, aliás, estiveram há um ror de anos expostas na Praça do Comércio em Lisboa).

A passagem que adiante transcrevo  é um pequeno desabafo de um dos personagens que enxameiam o livro deste grande escritor espanhol, Nobel da literatura:

《A Martin Marco preocupa-o  o problema social. Não tem ideias muito claras sobre nada, mas preocupa-o o problema social.
- Isto de haver ricos e pobres - diz às vezes -  está mal; era melhor que fôssemos todos iguais, nem muito pobres nem muito ricos, meio termo. A humanidade devia ser reformada. Devia nomear- se uma comissão de sábios que se encarregasse de modificar a humanidade. Ao princípio ocupar-se-ia de pequenas coisas, por exemplo, ensinar o sistema métrico decimal às pessoas e, então, à medida que se fossem aclimatando, começariam com coisas mais importantes, podendo até ordenar que demolissem cidades, para depois se ergueram de novo, todas iguais, com ruas bem simétricas e todas as casas com aquecimento. Seria um pouco dispendioso, mas os bancos teriam massa que chegasse para isso. 》



Para situar o leitor, a acção desenrola-se na cidade de Madrid na altura em que decorria a II Guerra Mundial, após a guerra civil em Espanha quando o país estava destruído e o povo na miséria.

João Hemingway 



Sem comentários:

Enviar um comentário

  SÃO JOÃO   "23.6 À meia noite de hoje (ontem) acendem-se os fogos. A multidão reúne-se em redor das altas fogueiras. Nesta noite limp...