NO CÉU NÃO HÁ CATEDRAIS
Expressão usada por um padre jesuíta que, durante muitos anos fez de guia aos turistas que demandavam a Catedral de Notre Dame.
Dizia ele que a Catedral vem "crescendo" ao longo dos séculos, com transformações consoante a época e os valores temporais dessa época. Refere que os vitrais têm vindo a ser substituídos ao longo dos séculos, assim como fachadas têm sido derrubadas para dar lugar a outras fachadas e que, assim, nada é imutável. Remata o jesuíta afirmando que "No céu não há catedrais".
É uma expressão que pode ter muitas interpretações e isso entronca na subjectividade de cada um.
Nesta data em que o mundo cristão celebra a morte e a ressurreição de Cristo, subjectivamente e respeitosamente considero que ser-se cristão e os valores que encerra, não se pode medir pelas vezes que se vai à missa, pelas vezes em que se visita uma catedral ou uma igreja, por se ter sido baptizado pela igreja e/ ou doutrina católica ou ter-se iniciado noutra fé qualquer. O ser-se cristão é um adjectivo que considero ser sinónimo de pessoa boa para o seu semelhante, boa consigo própria e com os animais, boa com a natureza, humilde, respeitoso e altruísta. Sendo certo que encontramos cristãos em toda a humanidade independentemente da religião que professam ou não. Ser-se cristão, muçulmano ou hindu, para mim não quer dizer grande coisa, embora respeite as opções. Porque sermos muçulmanos é exactamente a mesma coisa que sermos confessantes de outro credo, é sermos boas pessoas. Quer professemos uma religião ou outra ou nenhuma, antes de tudo somos seres humanos e isso é muito mais importante que as religiões. No fundo se querem que eu seja o quer seja, antes de tudo sou ser humano e isso é tudo independentemente das diferenças que existem entre as pessoas. Porque sim, somos todos diferentes mas somos todos iguais nessa diferença.
Hoje como ontem, o ser humano como indivíduo que é, como ser dotado de inteligência, muitas vezes têm necessidade de se isolar e falar consigo próprio e é nesses momentos de introspecção que se questiona e que questiona o mundo e saem os porquês. Sabe, não diria instintivamente, porque é dotado de inteligência, que a vida é mistério e a sua origem é insondável. Não chega a conclusão nenhuma, como é óbvio, mas cresce por dentro e sente que há um Deus, algo, uma força Transcendente que criou o Universo e as vidas. Esse Deus não poderá ser nada corpóreo à sua semelhança. Dele sentimos a presença em tudo o que nos rodeia, em tudo que nos cerca, na natureza, no ar que respiramos, na percepção do que observamos seja ou não uma percepção da realidade. No bater do nosso coração e na forma reflexiva como respiramos!
Ser-se muçulmano, cristão, hindu não me diz grande coisa, são opções, escolhas de livre ou imposta vontade. Respeitar e estar conforme à natureza para mim é que é o mais importante. Será uma prática que está de acordo com o sentido de quem nos criou. Não sou perfeito, infinitamente longe disso, mas o simples facto de estar a escrever isto que me sai da alma, dá-me esperança de ser menos imperfeito amanhã.
A todos desejo nesta Páscoa cristã, um bom fim de semana de paz consigo próprios e com tudo o que vos cerca.
João Andarilho.
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