SOU UM HEMERÓDROMO!
Em tempos que já lá vão, no tempo da Grécia Antiga, não havia a possibilidade da comunicação instantânea que, actualmente, nos permite estar onde estamos e em todo o lado quase ao mesmo tempo. Não havia satélites e concomitantemente "internet". Por isso a mensagem demorava sempre a chegar ao seu destino. O melhor que havia e o mais rápido e poderoso meio de comunicação entre os povos e entre as instituições de poder, era a mensagem ser encaminhada através dos Hemeródromos, ou seja, corredores de jornada, que a carregavam e se punham ao caminho correndo sempre, por entre montes e vales, até ao destino. Eram, pela sua preponderância, bastante considerados pelos poderes instituídos. Não era a qualquer um que era atribuída essa nobre função: para além de ter de ser fisicamente capaz de correr longas distâncias, fizesse chuva ou sol, era escolhido de entre famílias respeitadas e com grande sentido patriótico com provas dadas, até porque a responsabilidade de transportar correspondência de Estado, a isso obrigava. Havia até acordos entre estados que imunizavam estes maratonianos de serem capturados ou mortos tal a importância da sua função.
Talvez o Hemeródromo mais conhecido da história da humanidade e que contribuiu para o que conhecemos da nossa civilização, tenha sido um tal de Fidípedes.
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FIDÍPEDES, digamos assim, foi o pai da Maratona e da Ultra-Maratona, também e porquê?. Por alturas de 490 A.C., (há 2500 anos) deu-se a invasão do território helénico pelo império persa. Invasão essa que se deu num local chamado Maratona (que quer dizer, em grego e literalmente, campo de funcho, ou seja uma erva aromática que é aplicada na culinária) e que distava cerca de 40 quilómetros de Atenas.
Pois o meu colega de longas distâncias percorreu essa distância, de Maratona até Atenas, para dar a notícia da vitória dos gregos sobres os persas. Acabou por falecer do esforço. Mas o extraordinário foi que isto ocorreu numa época em que não havia géis de energia, nem bebidas energéticas nem calçado almofadado e especializado. Aliás, até corria descalço.
Mas mais extraordinário, ainda, é que o nosso Fidípedes, na véspera da Batalha de Maratona, fora mandado enviar por Atenas a Esparta, em busca de auxílio para reforçar as defesas gregas em Maratona. Sabem, amigos, quantos quilómetros percorreu, de um dia para o outro o nosso valente hemeródromo? 220 Km, eu disse 220 (duzentos e vinte) quilómetros. Sem dúvida que também é o pai da ultra-maratona!
Por isso my friends, apreendo que, sendo eu maratonista com experiência, me posso considerar, tal como Fidípedes, um orgulhoso HEMERÓDROMO!
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Se as forças persas tivessem derrotado os gregos em Maratona, a evolução da sociedade ocidental teria sido inexoravelmente alterada.
Como escreveu o historiador Edward S. Creasy no livro " As Quinze Decisivas Batalhas do Mundo":
O dia da Batalha de Maratona é o momento crítico na história das duas nações. Rompeu o feitiço sobre a invencibilidade persa, que paralisou a mente dos homens da época por vários anos… desta forma, assegurou para o ocidente os tesouros intelectuais de Atenas, o crescimento de instituições livres, o iluminismo liberal ocidental e a ascensão gradual, durante séculos, dos princípios da civilização europeia."
Chego, assim à conclusão de que, provavelmente, devo a minha existência, à existência deste bravo maratoniano dos tempos de antanho.
Um agradecimento do tamanho das minhas dezanove maratonas a este herói grego!
João Fidípedes