terça-feira, 13 de agosto de 2019



HONRA (ou falta dela)


Quando numa determinada comunidade existe um conceito muito enraizado, ao longo de ancestrais gerações, da honra no seu sentido mais lato apesar da pobreza material (que não da pobreza da nobreza do carácter e humanidade), estamos falados.
Tudo isto a propósito da leitura de um conto de William Saroyan, inserido num pequeno livrinho de contos "Humorísticos" de vários outros autores, publicado pelo "Diário de Notícias"/"Jornal de Notícias" em Agosto de 2011 e editado pela "Rosto Editora, Lda", que gentilmente me foi ofertado pelo meu amigo JF, autor do blogue "Planando no Mundo Cão", com uma "desavergonhada" dedicatória que, "envergonhado", agradeço.


*
« O agricultor observou avidamente o cavalo.
- Bom dia, filhos dos meus amigos - disse ele. - Como se chama o vosso cavalo?
- Meu coração - disse o meu primo Mourad em arménio -
- Um belo nome - disse John Byro, - para um belo cavalo. Podia jurar que este é o cavalo que me foi roubado há muitas semanas atrás. Posso ver-lhe os dentes?
- Claro - disse Mourad.
O agricultor inspeccionou os dentes do cavalo.
- Dente por dente - disse ele. - Se não conhecesse os teus pais, podia jurar que este é o meu cavalo. A tua família é conhecida pela honestidade e eu sei disso. No entanto, este cavalo é o gémeo do meu cavalo. Um homem desconfiado acreditaria nos seus olhos e não no seu coração. Bom dia, meus jovens amigos.
- Bom dia, John Byro - disse o meu primo Mourad.
Cedo na manhã seguinte levámos o cavalo para a vinha de John Byro  e colocámo-lo no celeiro. Os cães seguiram-nos sem fazerem barulho.
- Os cães - sussurrei ao meu primo Mourad. - Pensei que iam ladrar.
- Ladrariam a outra pessoa - disse ele. - Tenho jeito para os cães.
O meu primo Mourad abraçou o cavalo, encostou o seu nariz ao nariz do cavalo, deu-lhe uma palmadinha e depois fomos embora. Nessa tarde John Byro foi a nossa casa na sua carroça e mostrou à minha mãe o cavalo que tinha sido roubado e devolvido.
- Não sei o que pensar - disse ele. - O cavalo está mais forte do que nunca. Melhor comportado, também. Agradeço a Deus.
O meu tio Khosgrove, que estava na sala de estar, irritou-se e gritou: - Cala-te, homem, cala-te. O teu cavalo voltou. Não faças caso.»


João Andarilho

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