sábado, 19 de setembro de 2020

VÍCTOR


 VÍCTOR


Sentado no carro, estacionado, ouvindo a belíssima Sandra Nasic, momento lúdico que,  repentinamente, foi perturbado pela visão assustadora do Víctor atravessando a rua, de um lado para o outro, com a ajuda de uma canadiana, de passo curto, cambaliante, parando, hesitante, até que, ao alçar a perna para subir para o passeio estatela-se quase fazendo uma cambalhota, completamente desamparado. No rosto, o medo, talvez a vergonha. O susto e a impotência, o peso da idade, tudo de repente num microsegundo de suspense. 

Felizmente, aparentemente, tirando umas arranhadelas no cotovelo e pulso o Victor não partiu nada. Ajudei-o até à entrada de sua casa, que não era longe e desejei-lhe as melhoras. 

O Víctor é igual a milhares de Víctores deste país. Só, acorrentado ao peso da idade, padecendo da degeneração física progressiva e um dia mental, abandonado e esquecido. Não passa agora de um trapo ao olhar dos que com ele se cruzaram e desapiedaram, fingindo que não o viam. O Victor é agora um fantasma longe das grandes preocupações daquela que por ele passou, fingida, insensível, ao telemóvel. 

O Víctor é agora um trapo uma vida descartável. 

Fica bem Víctor, espero que tenhas almoçado bem. Bom fim de semana. 

João Andarilho 



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