terça-feira, 23 de outubro de 2018


Um Anjo no Trapézio


Voar no trapézio é uma arte e digo isto porque a vida é como o trapézio, precisas de ter arte se não estatelas-te e depois nada há a fazer. Bom, não é bem assim, depende de como cais. É bom cair e cair muitas vezes é óptimo porque de cada vez que te levantas estás mais preparado, deste um passo em frente. Isto é, aprendemos com os nossos erros e só assim avançamos e seremos melhores para connosco e para com os demais.


Estive a reler o "Um Anjo no Trapézio" do saudoso Manuel da Fonseca e sempre que o releio fico com um nó na garganta. Porquê? O escritor retrata exemplos de vida, desta cidade de Lisboa, deste Portugal dos pequeninos de décadas passadas e sombrias do "tempo da outra senhora", que é como quem diz, do tempo da ditadura e o que é retratado, sendo a realidade de então, é a miséria humana, a mendicidade a luta pela sobrevivência à custa do sacrifício da dignidade humana, um Portugal cheio de pobreza e indignidades, um Portugal de vergonha de si próprio, indigente e bolorento. Retrata bem a mente pequenina, isolada e ultrapassada do ditadorzinho atávico e sem vergonha que foi o tipo que acabou por dar um trambolhão da cadeira, do seu trapézio. Felizmente caiu e não se levantou mais.

João Passado dos Carretos

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