sábado, 12 de janeiro de 2019

Desejo – Víctor Hugo
Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

Víctor Hugo – biografia
Víctor Hugo nasceu em Besançon, em 26 Fevereiro de 1802. Intelectual, escritor, poeta e dramaturgo , é considerado como o pai 
do Romantismo francês. É também uma personalidade política muito comprometida. 

Víctor Hugo é o terceiro filho de um general do exército de Bonaparte, Joseph-Léopold Sigisbert e de Sophie Trébuchet. Teve uma infância e uma juventude nómada em função da profissão de seu pai. Viveu na Córsega, em Itália, em Espanha e em Paris. Todas as suas vivências ficaram para sempre presentes no seu espírito e na sua escrita. Em 1814 os seus pais separam-se. Sua mãe vai viver para Paris com o jovem Víctor que se inicia  desde logo, nos seus estudos técnicos, rapidamente abandonados para se consagrar à literatura, iniciando a participação activa na vida literária parisiense. Em 1822 casa com Adèle Foucher, seu amor de infância, de cuja relação nascem cinco filhos.

Monarquista, torna-se republicano depois dos acontecimentos de 1830. Torna-se o chefe de fila do movimento romântico em 1841 e é eleito para a Academia francesa. Em 1843 morre a sua filha Léopoldine. Talvez para aplacar a sua dor depois desta perda que o afecta bastante, começa a tomar parte activa na vida política francesa, se bem que, em 1852 tenha sido expulso de França devido à sua hostilidade para com Napoleão III. Permanece no exílio durante mais de vinte anos, durante os quais escreveu "Les Misérables", publicado em 1862 e a parte mais rica da sua obra. De volta a França em 1870 depois da proclamação da República, regressa a Paris onde é recebido em triunfo. É eleito deputado em 1871, e senador em 1876. Morreu em 22 Maio de 1885 devido a problemas  pulmonares. A Terceira República honra-o com grandiosas exéquias funerárias nacionais a que assistem mais de dois milhões de pessoas.


Víctor Hugo teve um papel importante na sua época, como homem de letras e como homem político. Ao nível literário joga um papel central no aparecimento do romantismo e na ruptura com as regras do teatro clássico. Politicamente é considerado um homem aberto. Defende ideias de justiça e de liberdade e lutou pela paz, contra a pena de morte e em favor das mulheres.

É um dos meus autores clássicos preferidos, um grande humanista de grande qualidade literária.

João Bertrand 




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