terça-feira, 1 de dezembro de 2020

AUTOPSIGRAFIA

 Fernando Pessoa morreu em 30 de Novembro de 1935



O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.



E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.



E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.



«Fernando Pessoa», in 'Cancioneiro'

Trecho do poema Autopsigrafia 

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