quarta-feira, 31 de março de 2021

 

O IMBONDEIRO


É recordação viva da memória, o imbondeiro plantado no início da minha rua na minha natal cidade de Luanda. Tinha nome do explorador português do Séc. XIX, Joaquim Rodrigues Graça, mas para mim é a Rua do Imbondeiro.

Sempre me fascinou a envergadura desta árvore, infundindo um sentimento de respeito e toda uma envolvência de mistério. O tronco bojudo com um diâmetro de muitos metros e a abertura desmesurada para o seu interior descobria uma enorme caverna. Era, de facto, desconcertante e intimidante.

Ilustração Giulia-Cavallo (O Grande Embondeiro)

Para mim, é, sem dúvida, um dos símbolos da terra africana. É sagrada, inspiradora de poetas e origem de lendas e de ritos. Tem alma própria. É fonte de saberes, sábia que pode chegar à provecta idade de seis mil anos! As folhas brotam entre os meses de Julho e Janeiro e floresce, durante uma única noite e por poucas horas, no período de Maio a Agosto. De uma generosidade a toda a prova, toda ela é utilidade para o homem como fonte medicamentosa. As sua folhas são ricas em cálcio, ferro, proteínas e lípidos, para além de serem usadas como um poderoso anti-diarreico e para combater febres e inflamações. Delas pode ser extraído um pó utilizado para combater a anemia, o raquitismo, a disenteria, o reumatismo, a asma e é também usado como tónico. 

O seu fruto é a  múcua cuja casca pode ser utilizada como uma tigela ou uma malga. A polpa e a fibra da múcua são capazes de combater a diarreia, a disenteria e o sarampo e o seu núcleo combate a febre e inflamações no tubo digestivo; as sementes estão cheias de óleo vegetal podendo ser assadas, moídas e consumidas como bebida substituta do café.

Sendo sacrílego o seu abate, em caso último de necessidade a sua madeira poderá ser utilizada para a construção de instrumentos musicais e do seu núcleo extrai-se uma fibra forte usada no fabrico de cordas e linhas.

Por tudo isto o Embondeiro é África, Poesia, Mãe...


João Andarilho

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Fantástico! Acho que há poucos dias estive sob a sombra magnífica de uma árvore majestosa... senti-me em África, por isso só poderia ser um Embondeiro, certo?

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    2. Certamente não era um Imbondeiro/Embondeiro (pode ser escrito das duas formas). Não seria um frondoso pinheiro?

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 EU SOU MARATONISTA... ...logo, hoje é o meu dia! João Andarilho