segunda-feira, 31 de dezembro de 2018




50 ANOS DA MORTE DE JOHN STEINBECK

No passado dia 20 de Dezembro cumpriram-se 50 anos da morte do grande romancista americano John Steinbeck (1902-1968), um dos autores da chamada “geração perdida” desiludida com os ideais que os Estados Unidos haviam vendido na Primeira Guerra Mundial.

William Faulkner, John dos Passos, Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald e John Steinbeck são os elementos mais destacados daquela geração. Alguns eram politicamente descomprometidos no âmbito das suas obras literárias, porém com Steinbeck não foi assim. Teve uma visão crítica da guerra e de uma sociedade americana miserável.

É a principal figura do novo realismo social americano. Nasceu em Salinas (Monterrey, Califórnia, EUA) em 1902, filho do tesoureiro do condado e de uma professora, num ambiente de camponeses ricos, recusando-se a olhar para as coisas como os seus familiares. Em vez de valorizar a prosperidade verde da agricultura numa terra fértil ou a riqueza das fábricas de conserva, persistiu em olhar para os trabalhadores do campo, mexicanos e okies (brancos que abandonaram o Oeste central devido à seca e à depressão) e na exploração da qual se construía a riqueza dos latifundiários.

Na juventude passou os seus verões a trabalhar em ranchos e com trabalhadores migrantes nas explorações de beterraba. Esta experiência de vida levou-a à escrita, resultando em vários romances como «Tortilla Flat» (1935), «Sobre Ratos e homens» (1937) e o livro de contos «O Pónei vermelho» (1933) ou «Os Crisântemos» (1937), uma obra-prima da narrativa breve.


Vivenciou os aspectos mais duros da vida dos imigrantes e o lado mais obscuro da natureza humana, proporcionando-lhe material para escrever algumas das suas melhores obras, como as já citadas e «As vinhas da ira» (1939), que serviu de inspiração para um grande filme.

Estudou na Universidade de Stanford, mas desde muito cedo teve de trabalhar duramente como pedreiro, trabalhador rural, medidor de terrenos ou empregado de balcão, e não chegou a formar-se. Nos anos trinta descreveu a pobreza que acompanhou a grande depressão económica e teve o seu primeiro reconhecimento crítico com o romance «Tortilla Flat», tendo recebido a Medalha de Ouro literária concedida pela Commonwealth Club of California à melhor novela escrita por um californiano. Com este compêndio de histórias humorísticas, Steinbeck obteve certo êxito. Retrata as aventuras de um grupo de jovens sem ocupação e geralmente sem abrigo em Monterrey depois da Primeira Guerra Mundial.

Outro romance de Steinbeck que teve grande sucesso foi «A Pérola» (1948). A história conta a desventura de um humilde pescador, Kino, e a sua família, e mostra como a bela pérola que eles encontram chega a perturbar a sua existência e leva-os a um destino fatal. A obra contém uma amarga crítica à ganância e à avidez, condutas que conduzem à destruição.

A leitura das obras deste grande autor, mergulham-nos na realidade da sociedade capitalista daquele tempo, cheia de convulsões sociais, com os grandes poderes explorando os migrantes e com a segregação racial pelo meio, ou seja, exactamente como hoje.

Fonte: Resistencia Popular

João Satirico

domingo, 30 de dezembro de 2018


SANGUE AZUL


É uma das expressões mais conhecidas da Língua Portuguesa (apesar de também existir noutros idiomas). Qual o seu significado?Dizer que alguém tem “sangue azul” significa que essa pessoa pertence à realeza. Durante muitos séculos, a expressão estava tão enraizada que muitas pessoas pensavam mesmo que os reis teriam, efectivamente, o sangue azul. Mas afinal qual é a origem da expressão “ter sangue azul”?
Uma das possiveis explicações advém da cor clara da pele, sob a qual se destacavam as veias e artérias azuis – quase invisíveis na pele de mouros e judeus, constantemente expostos ao sol durante o trabalho, isto ainda na Idade Média na península ibérica. 
Na Europa Renascentista, onde o padrão estético da nobreza era o tom de pele mais claro, quase da cor de porcelana, dizia-se que havia sangue azul (nobre) devido às veias localizadas nos membros superiores, de cor azul. As famílias importantes da Europa usavam, então, o termo para mostrar superioridade perante os escravos e os pobres, ou perante outros grupos raciais, como o índio, o mestiço e o negro. Isto deve-se ao facto de que a aristocracia de pele clara podia ver o sangue venoso, de tom azulado, através da pele, o sangue pobre em oxigénio, que circula pelas veias sistémicas e pela árvore arterial pulmonar.


Sempre senti que a cor do meu sangue era bem vermelhinha e ficou bem provado quando, em dia aziago da minha meninice, levei com um pedaço de tijolo no meio da testa, arremessado pela endiabrada da minha irmã.  

Mouro nasci mouro morrerei

João Plebeu

sábado, 29 de dezembro de 2018



SUB-CLASSE AMERICANA PERMANENTE
Por António Santos

Dizer, dos EUA, que há hipermercados mais caros e outros mais baratos é um eufemismo. O que existe é um apartheid, em que a grande distribuição está rigidamente segregada por classe social. É tão improvável encontrar um capitalista a encher o carrinho no Walmart, conhecido pela comida processada, barata e de baixa qualidade, como é inverosímil ver um trabalhador do Walmart a fazer as suas compras no Whole Foods ou no Fresh Market, onde todos os produtos têm etiqueta «orgânico», «biológico», «verde», «vegano», «local» ou «artesanal». As diferenças de preços são tão grandes, e a oferta tão segmentada, que há poucos barómetros sociais tão afinados como a competição entre as cadeias de distribuição. É por isso com iguais medidas de interesse e preocupação que nos devemos debruçar sobre a fabulosa proliferação das lojas de «tudo a um dólar» nos EUA.

O conceito dispensa explicações: são lojas onde todos os produtos à venda custam exactamente um dólar. Os preços imbatíveis são conseguidos através da compra da sobre-produção das fábricas e dos excedentes das outras cadeias, mas principalmente graças à às diminutas quantidades e à péssima qualidade dos produtos, não raramente tóxicos e perigosos para a saúde. À entrada de algumas destas lojas, uma gravação activada automaticamente relembra os clientes que serão «processados até às últimas consequências» se tentarem roubar. Mas nem por isso há menos clientes: o alvo destas lojas não são os operários que fazem as compras no Walmart, mas os trabalhadores desempregados, doentes, despejados e, quase sempre, desesperados.

Há hoje cerca de 30 mil «dollar stores» nos EUA, mais do que o número somado de estabelecimentos da Starbucks e da Walmart. Ao passo que muitas das antigas cadeias fecham superfícies para reduzir custos, só as duas principais empresas de «tudo a um dólar», a Dollar General e a Dollar Tree, têm planos para inaugurar mais 20 mil lojas. Para atingir esta meta, abrem quatro lojas por dia e, só em 2018, a Dollar General inaugurou 900 novas lojas. Segundo um estudo do Institute for Local Self-reliance, citado pela Newsweek, as chamadas «dollar stores» que não oferecem fruta, nem vegetais nem comida fresca, vendem hoje mais alimentos do que algumas das principais cadeias de distribuição de alimentos como a Whole Foods. Segundo o mesmo estudo, as «dollar stores» são hoje o principal abastecedor das casas dos norte-americanos que sobrevivem abaixo do limiar da pobreza, mais de 50 milhões de pessoas.

O fenómeno não é novo: os lucros da Dollar General, da Dollar Tree e da Family Dollar crescem consecutivamente há 27 anos, mas algo mudou na última década: só entre 2010 e 2015 a facturação das principais cadeias de «dollar stores» cresceu de 30,4 para 45,3 mil milhões de dólares e desde 2015 até 2018, em apenas três anos, este valor explodiu para 75,9 mil milhões de dólares.

Numa entrevista recente ao Wall Street Journal, o presidente executivo da Dollar General, Todd Vasos, explicou que «a economia vai continuar a criar mais daquilo que é a nossa clientela (…). Estamos a pôr lojas hoje [em zonas] que há talvez cinco anos estavam no limiar de estarem no nosso segmento social e demográfico». Comentando inócua e tepidamente essa entrevista, o analista financeiro da Bloomberg, Garrick Brown, explicaria mais tarde com inadvertida clareza o que o que o dono da Dollar General queria dizer: «Essencialmente, as «dollar stores» estão a apostar forte no desenvolvimento de uma sub-classe americana permanente».

Publicado no jornal Avante!



Palavras para quê quando até a pobreza e a miséria de milhões é pasto fértil para meia dúzia de gananciosos a explorarem até ao tutano. Que despautério! O ser humano é capaz dos maiores feitos em prol da humanidade mas também revela a quão baixo pode chegar em ignomínia e sem vergonhice.

João Atónito  

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018




Forte de Santa Luzia

Elvas tem dois fortes, o Forte de Santa Luzia e o Forte da Graça e quatro fortins, São Mamede, São Pedro, São Domingos e São Francisco (este destruído no século XIX).

Destas construções defensivas, visitei o primeiro forte, o de Santa Luzia. Tendo como fonte a brochura que me foi oferecida à entrada, é « Projectado em 1641, pelo General Matias de Albuquerque, primeiro e último conde de Alegrete, redesenhado mais tarde por Sebastião Frias que lhe dá o formato de polígono estrelado. Em 1642, o genovês Hieronimo Rozzeti fez novas alterações o que desagradou a Charles Lassart, engenheiro-mor do reino. Para colorir ainda mais o desenho, surge o arquitecto jesuíta flamengo, João Cosmander que aproxima o projecto do modelo militar holandês e é o mentor da muralha seiscentista da cidade, um polígono irregular de doze lados. O Forte de Santa Luzia é um dos melhores e mais genuínos exemplos da arte de fortificar europeia, um dos monumentos militares mais significativos deste período e mais uma obra prima da arquitectura militar de Elvas. 


Composto por quatro baluartes com um reduto quadrangular ao centro, onde se encontram a casa do governador, a igreja, uma casa abobadada à prova de bomba, várias casernas e duas cisternas qua abasteceriam até quatrocentos homens durante dois a três meses. O forte só ficaria concluído em 1648.

O projecto tem ainda uma particularidade bastante engenhosa: a face virada para a vila foi construída com um material de fácil destruição para, em caso de ocupação inimiga, ser imediatamente deitada a abaixo.

No ano de 2000, o monumento passou a albergar o museu militar de Elvas, para além de apresentar vários artefactos que marcaram as várias guerras desta cidade-fortaleza.»




De facto, vale bem a pena visitar a fantástica e bela cidade de Elvas, seus fortes e fortins e compreender o seu valor histórico para a manutenção da soberania portuguesa.
Somos um povo que alcançou a sua independência e reafirmou ser uma só nação e um só povo, graças à sua bravura ao longo de mais de oitocentos anos. Dominámos o mundo e o conhecimento científico e militar em dada época e "demos novos mundos ao mundo".




VALENTES, NAÇÃO VALENTE!

João Cronista-mor

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018



Olivença/Olivenza

Ao longo dos 1292 quilómetros da fronteira luso/espanhola, há 5228 marcos fronteiriços que vão marcando o traçado a cada 250 metros. Pois bem, a única parte da fronteira sem esses marcos é a zona de Olivença entre o rio Caia e a desembocadura do Cuncos no Guadiana. Faltam os marcos do quilómetro 801 ao 900, como reivindicação de posse sobre Olivença, ainda que, na actualidade, ambos os países tenham voltado a ser pacíficos vizinhos.

Olivença foi portuguesa até 1801 e continua a ser objecto de uma reclamação histórica por parte de Portugal.



Em Zamora, em 1143, os reis Afonso I de Portugal e Afonso VII de Leão e Castela, estabeleceram os limites iniciais entre ambos os reinos. Pelo Tratado de Badajoz (Alcanizes) de 1297, reconhece-se o Algarve como parte do reino de Portugal e a zona Este do rio Guadiana como parte da coroa de Castela. Três décadas mais tarde, o Rei D. Dinis de Portugal e a Rainha Maria de Molina, mãe de Fernando IV de Castela (então menor de idade), assinam um acordo sobre as fronteiras em que cedem Olivença a Portugal. Saltando, agora, a 1801, a outro tratado de Badajoz que, depois da Guerra das Laranjas, deixa Olivença em Espanha, após ter sido conquistada em acção bélica assim como outras terras alentejanas. Mudou, assim, de mão várias vezes.





Simbólico deste diferendo que reina entre os dois países, pode-se considerar a velha ponte que em tempos ligou as duas margens do Guadiana. A Ponte da Ajuda, que poderá ser vista da ponte nova situada a cerca de 12 quilómetros de Olivença, tem um comprimento total de 380 metros de longitude e foi construída no século  XVI para estabelecer a ligação com a portuguesa Olivença. Mas as guerras sucessivas e a força do Guadiana nas suas enchentes cíclicas provocaram a sua destruição que hoje em dia se mantém. Em 2003 foi parcialmente restaurada ainda que a parte central continue destruída, deixando uma imagem poética, nostálgica e simbólica.



De todos este e outros conflitos com os reinos de Castela e Leão, dos quais resultaram a nossa afirmação como Nação independente, nasce a expressão "De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos"

João Lusitano

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018







BOCAGE


Um dos maiores génios da literatura portuguesa incompreensivelmente pouco valorizado pelo seu próprio povo. Nascido em Setúbal, junto ao Sado, em 15 de Setembro de 1765, filho de José Luís Soares de Barbosa, Juíz de Fora e ouvidor e de Mariana Joaquina Xavier l´Hedois Lustoff du Bocage, descendente de família Normandia, região do noroeste de França.
Foi o mais importante poeta do século XVIII. Foi o grande poeta do Arcadismo de Portugal. A sua poesia era uma poesia individualista e muito pessoal.

Alistou-se na Marinha de Guerra em 1783, graduando-se em seguida. Em 1786 viajou para o Brasil e para o oriente, permanecendo na Índia como guarda-marinha onde é promovido a tenente e mandado para Damão. Desertou da marinha fugindo para Macau passando a viver uma vida errante e boémia. Em 1790 regressou a Lisboa, iniciando a sua actividade literária, sob o pseudómino de Elmano Sadino, tendo participado da associação de poetas denominada "Nova Arcádia", escrevendo poesias que falavam de pastores, pastoras e ovelhas e da mitologia clássica.

O próprio nome do movimento foi tirado de Arcádia, região da Grécia onde, segundo a mitologia, pastores e pastoras levavam uma vida inocente e feliz, em contacto com a natureza. Mais tarde abandonou a poesia artificial e começou a falar do seu mundo interior, de seus dramas amorosos e existenciais, numa linguagem que encontrou grande receptividade entre os leitores da sua época e dos séculos seguintes, tornando-se o poeta mais lido em Portugal.

João Soneto



1. Nascemos para Amar

Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.
Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

2. O Leão e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

3. Morte, Juízo, Inferno e Paraíso

Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhões adoro e beijo.
Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.
Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d’alma a paz e o riso,
Sendo só meu sustento os meus cuidados;
E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

4. És dos Céus o Composto Mais Brilhante

Marília, nos teus olhos buliçosos
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lábios, voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.
Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem;
E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.
Reside em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razão com teus risos se mistura.
És dos Céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.

5. A Negra Fúria Ciúme

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fúria Ciúme.
Sobre um sólio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fúria Ciúme.
Crespas víboras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fúria Ciúme.
Arrancando à Morte a fouce
De buído, ervado gume,
Vem retalhar corações
A negra fúria Ciúme.
Ao cruel sócio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fúria Ciúme.
Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrível dos monstros,
A negra fúria Ciúme.
Amor inda é mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fúria Ciúme.
Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao áureo cume,
Porém de lá nos arroja
A negra fúria Ciúme.
Do férreo cálix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fúria Ciúme.
Do escuro seio dos fados
Saltam males em cardume:
O pior é o que eu sofro,
A negra fúria Ciúme.
Dos imutáveis destinos
Se lê no idoso volume
Quantos estragos tem feito
A negra fúria Ciúme.
Amor inda brilha menos
Do que sutil vagalume,
Por entre as sombras que espalha
A negra fúria Ciúme.








terça-feira, 25 de dezembro de 2018



NATAL

Embora os cristãos católicos celebrem o nascimento de Jesus Cristo em 25 de Dezembro, a maioria dos estudiosos concordam que Ele não nasceu naquele dia, ou mesmo no ano 1 D.C.
 Pesquisadores acreditam que a Igreja Católica Romana estabeleceu o dia 25 de Dezembro por variadas razões, tais como os laços à data do solstício de inverno e Saturnalia, um festival dedicado à divindade romana Saturno. Ao escolher este dia para celebrar o aniversário de Jesus, a igreja poderia cooptar o popular festival pagão, bem como as celebrações de Inverno de outras religiões pagãs.
Mas ninguém realmente sabe exactamente a data de  nascimento de Jesus.
Alguns estudiosos pensam que ele nasceu entre 6 A.C. e 4 A.C., baseando-se, em parte, na história bíblica de Herodes, o grande. Não muito antes da morte de Herodes, que se acredita ter ocorrido em 4 A.C., o governante da Judeia, supostamente, terá ordenado a morte de todos os bebés do sexo masculino que tinham menos de dois anos de idade e viviam nas imediações de Belém, numa tentativa de matar Jesus.
Mas os historiadores discordam sobre o verdadeiro ano de morte de Herodes. Além disso, o infanticídio em massa é  uma lenda e não é factual que tenha acontecido, reza Aslan, um erudito bíblico e autor de  "Zealot: A vida e os tempos de Jesus de Nazaré " (Random House, 2013). 

Para identificar o ano de nascimento de Jesus, outros estudiosos tentaram correlacionar a "Estrela de Belém", que supostamente anunciava o nascimento de Jesus, com acontecimentos astronómicos reais. Por exemplo, num artigo de 1991 no jornal trimestral da Sociedade Astronómica Real brasileira, o astrónomo Colin Humphreys propôs que a estrela lendária seria realmente um cometa lento, que os observadores chineses registaram em 5 A.C.
Os estudiosos também discutem o mês do nascimento de Jesus. Em 2008, o astrónomo Dave Reneke argumentou que Jesus nasceu no Verão. A Estrela de Belém, pode ter sido Vénus e Júpiter unindo-se formando uma luz brilhante no céu. Usando modelos de computador, Reneke determinou que este evento raro ocorreu em 17 de Junho, no ano 2 AC.
Outros pesquisadores alegaram que uma conjunção semelhante, entre Saturno e Júpiter, terá ocorrido em Outubro de 7 A.C., fazendo de Jesus um bebé de Outono.
Teólogos também sugeriram que Jesus terá nascido na Primavera, com base na narrativa bíblica de que os pastores estavam vigiando seus rebanhos nos campos na noite do nascimento de Jesus, ora, isto é algo que era feito na Primavera e não no Inverno. 

Seja como for, hoje, dia 25 de Dezembro de 2018, celebra-se o dia de nascimento da Pessoa mais importante para o cristanismo e para o mundo católico, CRISTO REDENTOR.

João Cristão

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018




CUTILEIRO

João Pires Cutileiro, nasceu em Lisboa a 26 de Junho de 1937, numa família ligada à oposição ao regime. Desde cedo viajou muito (o pai era médico da Organização Mundial de Saúde), tendo vivido nos Açores. Em 1951 passa por Florença onde se familiariza com a obra de Miguel Ângelo. Na sequência frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, seguindo depois para a Slade School of Art, em Londres, onde se começa a dedicar ao mármore.

Em 1970 regressa a Portugal e fixa residência em Lagos, cidade onde executa uma das suas obras mais marcantes: a estátua de D. Sebastião.


Vive em Évora desde 1985, local onde está a sua casa-atelier, e onde continua a desenvolver a sua vasta obra.



Isto a propósito da doação de parte do seu espólio e do seu atelier ao Estado em cerimónia que decorreu no dia 19-12-2018 e teve lugar no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora.
A Câmara Municipal de Évora, uma das três entidades envolvidas no protocolo agora firmado, terá papel importante na programação artística do espaço, para além do natural apoio logístico.

A casa-atelier será utilizada para fins culturais/académicos relacionados com a sua produção artística, nomeadamente para o estudo e formação na área da escultura em pedra, onde se incluem atividades relacionadas com a realização de exposições, residências artísticas, visita e fruição pública, tal como é desejo de João Cutileiro. A Direção Regional de Cultura do Alentejo está já a trabalhar no inventário e a organizar o arquivo do escultor.

João D´Avinci

domingo, 23 de dezembro de 2018




MARC  LAMONT HILL

A CNN despediu um prestigiado comentador e colaborador por defender a existência de um Estado único e secular na Palestina, com direitos iguais para todos os grupos étnicos e crenças. O Professor Marc Lamont Hill defendera horas antes essa opção partindo do princípio de que a solução de dois Estados foi inviabilizada pela colonização israelita nos territórios palestinianos ocupados.

Muito seguida e considerada como exemplo de referência da qualidade informativa e da liberdade de expressão, a CNN despediu o académico depois de este ter feito uma intervenção perante a Comissão da ONU pelos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano na qual qualificou como “falida” a “solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano”.
O Estado único e secular defendido por Marc Lamont Hill deveria permitir direitos iguais a todas as pessoas, israelitas ou palestinianas, que vivam na Palestina histórica, do Jordão ao Mediterrâneo.
Esta posição do seu colaborador foi qualificada como anti-semita pela CNN, que a interpretou como um apelo “à destruição de Israel”.
“Apoio a liberdade para os palestinianos e direitos iguais para israelitas e palestinianos; por isso sou profundamente crítico da política e da prática de Israel, que veda, de maneira brutal, a autodeterminação do povo palestiniano”, defendeu-se o comentador numa série de mensagens publicadas no Twitter. “A minha referência ‘do Jordão ao Mar Mediterrâneo’”, acrescentou, “não foi um apelo à destruição de qualquer coisa ou de alguém, como ficará claro a qualquer pessoa que tome conhecimento da minha intervenção. Não apoio o anti-semitismo, não defendo a morte de judeus nem qualquer outra coisa do género que me foi atribuída, limitei-me a defender direitos e liberdades iguais para israelitas e palestinianos. Passei a minha vida a lutar contra essas coisas de que me acusam e não vai ser a deturpação do conteúdo da minha intervenção que irá alterar o meu comportamento”.

Martha Ladesic, Nova York para “O lado Oculto”


Um autêntico atentado contra a liberdade de expressão que, além do mais, contribui para silenciar as vozes que denunciam as violações dos direitos humanos básicos na Palestina ocupada.
Esta atitude por parte do canal de televisão americano, vai no sentido de silenciar o sentimento do jornalista baseado em príncípios contra o racismo e pelo tratamento igualitário de todas as pessoas, incluindo os palestinos, demonstrando um comportamento vergonhoso e cobarde.

João Com Princípios



sábado, 22 de dezembro de 2018


ÊXITOS DOS GOVERNOS PROGRESSISTAS

É importante acompanhar os êxitos de governos progressistas, como os da Venezuela e da Bolívia, que marcaram as suas trajetórias no combate sem tréguas ao neoliberalismo e fortaleceram a política governamental voltados para as características dos seus povos e traçando planos para satisfazer as necessidades prementes de sobrevivência e desenvolvimento. Os projetos desses governos priorizam o crescimento forte, equilibrado, sustentável e inclusivo da sua população, além de participarem na troca de produtos e de experiências com os demais, a nível regional e internacional. Aplicam os princípios que foram teorizados pela ONU, tornando-os uma realidade humanista, além de política.

Apesar das falsidades que os media globais despejam sobre o mundo, a Venezuela constrói desde 1998 o caminho traçado por Hugo Chaves na defesa dos Direitos Humanos, com liberdade de expressão, melhor distribuição de rendimentos, redução do analfabetismo, ensino e saúde gratuitos, democracia participativa que inclui o referendo revogatório para leis nacionais. São análises internacionais (International Consulting) que registam 80,9% de apoio popular ao Presidente  Maduro, 85,4% condenam os actos de violência e 80% da comunicação social no país é privada. Enquanto Trump ameaça invadir a Venezuela e estimula a fuga de uma burguesia que lamenta a impossibilidade de explorar os trabalhadores naquela nação, o governo de Nicolas Maduro promoveu, dia 9/12, uma eleição da estrutura de poder local que abrange 2.489 cargos municipais, alcançando o apoio de 92,8% dos resultados para o Grande Polo Patriótico que reune várias organizações, o que comprova a realidade de um povo que continua a ser soberano.

A Bolívia era um dos países mais pobres da América Latina quando as suas riquezas minerais - gás, petróleo e estanho - eram exportadas em bruto por empresas multinacionais associadas às velhas famílias oligárquicas do país. Com a eleição de Evo Morales, líder indígena, que formou um governo disposto a combater o neoliberalismo e estabelecer um equilíbrio plurinacional com reconhecimento das identidades indígenas, estatizou as empresas de exportação e passou a ter um crescimento anual do PIB em 5%. Assumiu o controlo das terras e redistribuiu-as em propriedades privadas pequenas e médias, estabelecendo um controlo sobre a cadeia produtiva, de modo a garantir o autoabastecimento alimentar. Esta experiência que tem permitido o reconhecimento internacional dos seus êxitos abre importante campo de estudo antropológico da riqueza cultural indígena, a começar pela capacidade de organização comunitária para assegurar a sobrevivência com recursos limitados em condições climáticas adversas, devido às elevadas altitudes e baixas temperaturas, e pelo uso de produtos naturais com qualidades medicinais. O primeiro exemplo é o da folha verde de coca - que não deve ser confundida com a branca, da cocaína, utilizada pelo narcotráfico, combatido na Bolívia.
Com a preocupação de "superar 500 anos de desprezo, ódio, escravidão e exterminio pelos colonialistas", como disse Evo Morales na Assembleia da ONU, a Bolívia traçou um caminho de "refundação" do Estado, de modo a priorizar os serviço públicos sociais para eliminar as carências e taxou as grandes fortunas e os elevados lucros para manter alianças apenas com empresas privadas adequadas. A Constituição de 2009 estabelece que os serviços públicos devem ser considerados como Direitos Humanos. Para a sua plena aplicação, o governo reduz contínuamente os preços da água, do gás e da energia elétrica. Já foi eliminado o analfabetismo e foram feitos investimentos em centros culturais e desportivos, construídas estradas e teleféricos, e promovida a construção de um porto no Perú para atender o movimento de importação e exportação boliviano. O grau de pobreza, que era de 63% da população em 2004, foi reduzido para 39% em 2015. É um processo gradual, principalmente devido às pressões do imperialismo e dos media hegemónicos, mas que tem evoluído permanentemente, segundo as avaliações da ONU.

E, no mesmo caminho aberto pela Venezuela e Bolívia, agora surge o México que elegeu Lopez Obrador - incentivador, em 2012, do Movimiento de Regeneración Nacional que promoveu a coligação das forças de esquerda. A sua vitória ficou assinalada pelas fortes palavras com que definiu o programa de governo "contra a corrupção e os abusos de privatização que constituem a marca do neoliberalismo". Anunciou o corte dos mais elevados salários do Estado, a começar pelo seu, como Presidente, o aumento em 100% do salário mínimo nacional e a cobrança de impostos sobre fortunas e rendimentos de grandes empresas.

Nesta fase crítica do capitalismo, os conceitos teóricos que sempre fizeram parte da definição de princípios da ONU e dos discursos utilizados para conquistar o apoio eleitoral das populações - direitos humanos, democracia, previdência social, saúde universal, educação gratuita para todos, solidariedade com povos vitimados por catástrofes - com as promessas de criação de Estados Sociais e de laços de amizade sem discriminações face às diferenças económicas e culturais, assumem uma condição única e urgente para a superação do caos que envolve também o continente europeu e os países mais ricos de outras áreas geográficas. Exige-se discernimento e coragem cívica para dignificar os altos cargos das estruturas políticas a nível nacional e internacional. É o momento da unidade com respeito pelas nações soberanas num mundo multipolar.

Zillah Branco in "Face Oculta"



O mundo, as gentes, os povos esmagados pela pressão dos salários baixos, aumentos brutais dos impostos, degradação dos serviços públicos, com os recursos das nações a serem transferidos para a capitalização da banca privada, entrou em desespero. A solução terá que partir de todos nós. A útima palavra será nossa. O grito partirá das nossas gargantas, a acção das nossas mãos.

Viva a revolução das mentalidades, vivam os povos. Vivamos!

João Zapata

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018




EDUCAÇÃO


" A revolução impôs o ensino unificado, um princípio revolucionáro que dizia que a uns não podia caber o pão e a outros a poesia. Todos, pobres ou ricos, deviam ter acesso ao mesmo tronco comum de conhecimento (9º ano): línguas e literarura, ciências, música, trabalhos manuais..."

"Lembram-se certamente da história dos três porquinhos, cujo moral é que o que fazemos bem demora mais, dá mais trabalho, mas dura e é sólido. O problema da qualidade do ensino tem de ser visto com sinceridade na sua complexidade. Prende-se com investimento em formação, universidade com qualidade, mobilidade social e garantia de emprego, para que os estudam sintam que o esforço vale a pena."

"Tempos houve em que a igreja ocupava o lugar central das cidades. Hoje esse lugar é ocupado por um banco. Espero que um dia seja ocupado por uma universidade. "



"A palavra escola tem a sua origem na palavra ócio, que para os gregos era o contrário de negócio. Ócio não era preguiça, era tempo de reflexão. Marilena Chauí, destacada filósofa brasileira, num relatório que elaborou para a UNESCO, disse que se a universidade « trabalha é porque deixou de cumprir a sua função»."

"Se tivéssemos mais poetas, talvez tivesse soado aos ouvidos de Merkel um velho escrito de Brecht : « no momento de marchar, muitos não sabem / Que o seu inimigo marcha à sua frente. / A voz que comanda / É a voz do seu inimigo. / Aquele que fala do inimigo / É ele mesmo o inimigo.» "

Raquel Varela (historiadora) in "Para onde vai Portugal?"

João Pensador

  SÃO JOÃO   "23.6 À meia noite de hoje (ontem) acendem-se os fogos. A multidão reúne-se em redor das altas fogueiras. Nesta noite limp...