terça-feira, 30 de abril de 2019



JUBILEU


Quando era imberbe e pouca consciência tinha das coisas da vida e apesar de, na actualidade, continuar imberbe e desconhecedor, pensava que Jubileu era uma marca de chocolates e até tinha razão. Também associava a palavra à sempre idosa Rainha de Inglaterra, porque, para mim, ela sempre foi bastante entradota na idade e sempre assim será. É uma palavra que associo facilmente a algo velho, desagradável e muito próximo com ritos religiosos, católicos, que mete papas e padres e batinas. Algo assustador e nada simpático. Por esta ordem de ideias vem-me logo à memória o facto de se chamarem jubilados aos senhores juízes que já não têm idade para andar a julgar pessoas ou decidir de coisas que dizem que são importantes na vida das pessoas. Por isso jubilam-se. Quanto a mim, dou-me por satisfeito por nunca ir ser jubilado (é um peso que me sai de cima), porque isso seria uma nódoa que me iria cobrir de pavor no resto da minha existência. 

Prefiro então contentar-me com um bom quadrado de chocolate Jubileu que esse, sim, é doce e sempre muito rápido de degustar e acaba por, rapidamente, se jubilar nas minhas papilas gustativas que é um mimo.

João Cacau

sexta-feira, 26 de abril de 2019



GUERNICA

Pablo Picasso 

Passam hoje 82 anos do bombardeamento da povoação basca de Guernica, por parte da força aérea nazista, apoiante do caudilho Francisco Franco. Foram chacinadas milhares de pessoas e terá sido a etapa derradeira de preparação da "blitz grieg " nazista contra os povos da Europa e início da II Grande Guerra Mundial. 

João Andarilho

quinta-feira, 25 de abril de 2019



VAI-TE



E assim termina o dia. Sorrindo...

João Capitão

25 de Abril - Corrida da Liberdade

Neste dia 25 de Abril, comemorativo dos 45 anos da queda da ditadura, em 1974, participei, como é hábito, na Corrida da Liberdade. Desta vez na vertente mais curta, que começava no Largo do Carmo, em direcção à Praça dos Restauradores, onde terminava. Foi mais um bom momento de confraternização do povo que se juntou, também para puxar um pouco pela parte cardíaca. Assim, também se homenageou a acção libertadora protagonizada pelas nossas forças armadas, em particular o cerco, não  de Lisboa, título do livro de Saramago, mas do Quartel do Carmo, onde se mostrava encurralado o que restava da longa noite da ditadura.

25 de Abril sempre!

João Capitão 





https://youtu.be/_KFZwGy1eJ4



NUNCA


"Eu nunca fui obrigado a fazer a saudação fascista aos «meus superiores». Eu nunca andei fardado com um uniforme verde e amarelo de S de Salazar à cintura. Eu nunca marchei, em ordem unida, aos sábados, com outros miúdos, no meio de cânticos e brados militares. Eu nunca vi os colegas mais velhos serem levados para a «mílícia», para fazerem manejo de arma com a Mauser. Eu nunca fui arregimentado, dias e dias, para gigantescos festivais de ginástica no Estádio do Jamor. Eu nunca assisti ao histerismo generalizado em torno do «Senhor Presidente do Conselho», nem ao servilismo sabujo para com o «venerando Chefe do Estado». Eu nunca fui sujeito ao culto do «Chefe», «chefe de turma», «chefe de quina», «chefe dos contínuos», «chefe da esquadra», «chefe do Estado». Eu nunca fui obrigado a ouvir discursos sobre «Deus, Pátria e Família». Eu nunca ouvi gritar: «quem manda? Salazar, Salazar, Salazar». Eu nunca tive manuais escolares que ironizassem com «os pretos» e com «as raças inferiores». Eu nunca me apercebi do «dia da Raça». Eu nunca ouvi louvar a acção dos «Viriatos» na Guerra de Espanha. Eu nunca fui obrigado a ler textos escolares que convidassem à resignação, à pobreza e ao conformismo; Eu nunca fui pressionado para me converter ao catolicismo e me «baptizar». Eu nunca fui em grupos levar géneros a pobres, politicamente seleccionados, porque era mesmo assim. Eu nunca assisti á miséria fétida dos hospitais dos indigentes. Eu nunca vi os meus pais inquietados e em susto. Eu nunca tive que esconder livros e papéis em casa de vizinhos ou amigos. Eu nunca assisti à apreensão dos livros do meu pai. Eu nunca soube de uma cadeia escura chamada o Aljube em que os presos eram sepultados vivos em «curros». Eu nunca convivi com alguém que tivesse penado no Tarrafal. Eu nunca soube de gente pobre espancada, vilipendiada e perseguida e nunca vi gente simples do campo a ser humilhada e insultada. Eu nunca vi o meu pai preso e nunca fui impedido de o visitar durante dias a fio enquanto ele estava «no sono». Eu nunca fui interpelado e ameaçado por guardas quando olhava, de fora, para as grades da cadeia. Eu nunca fui capturado no castelo de S. Jorge por um legionário, por estar a falar inglês sem ser «intréprete oficial». Eu nunca fui conduzido à força a uma cave, no mesmo castelo, em que havia fardas verdes e cães pastores alemães. Eu nunca vi homens e mulheres a sofrer na cadeia da vila por não quererem trabalhar de sol a sol. Eu nunca soube de alentejanos presos, às ranchadas, por se encontrarem a cantar na rua. Eu nunca assisti a umas eleições falsificadas, nunca vi uma manifestação espontânea ser reprimida por cavalaria à sabrada; eu nunca senti os tiros a chicotearem pelas paredes de Lisboa, em Alfama, durante o Primeiro de Maio. Eu nunca assisti a um comício interrompido, um colóquio desconvocado, uma sessão de cinema proibida. Eu nunca presenciei a invasão dum cineclube de jovens com roubo de ficheiros, gente ameaçada, cartazes arrancados. Eu nunca soube do assalto à Sociedade Portuguesa de Escritores, da prisão dos seus dirigentes. Eu nunca soube da lei do silêncio e da damnatio memoriae que impendia sobre os mais prestigiados intelectuais do meu país. Eu nunca fui confrontado quotidianamente com propaganda do estado corporativo e nunca tive de sofrer as campanhas de mentalização de locutores, escribas e comentadores da Rádio e da Televisão. Eu nunca me dei conta de que houvesse censura à imprensa e livros proibidos. Eu nunca ouvi dizer que tinha havido gente assassinada nas ruas, nos caminhos e nas cadeias. Eu nunca baixei a voz num café, para falar com o companheiro do lado. Eu nunca tive de me preocupar com aquele homem encostado ali à esquina. Eu nunca sofri nenhuma carga policial por reclamar «autonomia» universitária. Eu nunca vi amigos e colegas de cabeça aberta pelas coronhas policiais. Eu nunca fui levado pela polícia, num autocarro, para o Governo Civil de Lisboa por indicação de um reitor celerado. Eu nunca vi o meu pai ser julgado por um tribunal de três juízes carrascos por fazer parte do «organismo das cooperativas», do PCP, com alguns comerciantes da Baixa, contabilistas, vendedores e outros tenebrosos subversivos. Eu nunca fui sistematicamente seguido por brigadas que utilizavam um certo Volkswagen verde. Eu nunca tive o meu telefone vigiado. Eu nunca fui impedido de ler o que me apetecia, falar quando me ocorria, ver os filmes e as peças de teatro que queria. Eu nunca fui proibido de viajar para o estrangeiro. Eu nunca fui expressamente bloqueado em concursos de acesso à função pública. Eu nunca vi a minha vida devassada, nem a minha correspondência apreendida. Eu nunca fui precedido pela informação de que não «oferecia garantias de colaborar na realização dos fins superiores do Estado». Eu nunca fui objecto de comunicações «a bem da nação». Eu nunca fui preso. Eu nunca tive o serviço militar ilegalmente interrompido por uma polícia civil. Eu nunca fui julgado e condenado a dois anos de cadeia por actividades que seriam perfeitamente quotidianas e normais noutro país qualquer; Eu nunca estive onze dias e onze noites, alternados, impedido de dormir, e a ser quotidianamente insultado e ameaçado. Eu nunca tive alucinações, nunca tombei de cansaço. Eu nunca conheci as prisões de Caxias e de Peniche. Eu nunca me dei conta, aí, de alguém que tivesse sido perseguido, espancado e privado do sono. Eu nunca estive destinado à Companhia Disciplinar de Penamacor. Eu nunca tive de fugir clandestinamente do país. Eu nunca vivi num regime de partido único. Eu nunca tive a infelicidade de conhecer o fascismo."



Mário de Carvalho - in "DENEGAÇÃO POR ANÁFORA MERENCÓRIA

terça-feira, 23 de abril de 2019



DIA MUNDIAL DA LEITURA


Comemora-se hoje. Isto dos dias mundiais do que quer que seja, na minha perspectiva, não é mais do que um incentivar à prática de qualquer acção meritória, no caso concreto à prática da leitura como forma de aquisição do conhecimento, da agilização mental que permita uma escorreita forma de pensar e de escrever. Só por isso este género de comemoração é positiva e de real significado.


Quanto a mim, faço por que este dia se comemore todos os dias.

Boas leituras

João Bertrand

LODO 

Antigamente havia um desporto praticado entre 22 jogadores e ajuizado por um senhor juiz árbitro e por dois auxiliares de linha. O jogo obedecia a regras definidas e o objectivo era introduzir a bola na baliza adversária, sendo que, quem mais bolas introduzisse saía vencedor. Eram utilizadas tácticas de jogo e, quem as praticasse melhor, tinha vantagem teórica e poderia sair ganhador. 
Chamava -se Futebol e era jogado com paixão mas, acima de tudo,  com fair-play. Jogo que arrebatou paixões globais a ponto de ser considerado o desporto número um no planeta. Os contendores, acabada a peleja, iam à sua vida e muitas das vezes  acabavam por confraternizar uns com os outros,  sendo certo que, apesar de adversários no terreno de jogo, eram amigos fora dele. Tinham dignificado a camisola e, independentemente do resultado final, acima de tudo prevalecia a amizade. 
Até ontem. Ontem um fulano "petit", deu uma machadada no futebol, ajudando a pregar o seu caixão. 

João da Silva Ferreira 

sábado, 20 de abril de 2019




NO CÉU NÃO HÁ CATEDRAIS


Expressão usada por um padre jesuíta que, durante muitos anos fez de guia aos turistas que demandavam a Catedral de Notre Dame.
Dizia ele que a Catedral vem  "crescendo" ao longo dos séculos, com transformações consoante a época e os valores temporais dessa época. Refere que os vitrais têm vindo a ser substituídos ao longo dos séculos, assim como fachadas têm sido derrubadas para dar lugar a outras fachadas e que, assim, nada é imutável. Remata o jesuíta afirmando que "No céu não há catedrais".
É uma expressão que pode ter muitas interpretações e isso entronca na subjectividade de cada um. 

Nesta data em que o mundo cristão celebra a morte e a ressurreição de Cristo, subjectivamente e respeitosamente considero que ser-se cristão e os valores que encerra, não se pode medir pelas vezes que se vai à missa, pelas vezes em que se visita uma catedral ou uma igreja, por se ter sido baptizado pela igreja e/ ou doutrina católica ou ter-se iniciado noutra fé qualquer. O ser-se cristão é um adjectivo que considero ser sinónimo de pessoa boa para o seu semelhante, boa consigo própria e com os animais, boa com a natureza, humilde, respeitoso e altruísta. Sendo certo que encontramos cristãos em toda a humanidade independentemente da religião que professam ou não. Ser-se cristão, muçulmano ou hindu, para mim não quer dizer grande coisa, embora respeite as opções. Porque sermos muçulmanos é exactamente a mesma coisa que sermos confessantes de outro credo, é sermos boas pessoas. Quer professemos uma religião ou outra ou nenhuma, antes de tudo somos seres humanos e isso é muito mais importante que as religiões. No fundo se querem que eu seja o quer seja, antes de tudo sou ser humano e isso é tudo independentemente das diferenças que existem entre as pessoas. Porque sim, somos todos diferentes mas somos todos iguais nessa diferença.

Hoje como ontem, o ser humano como indivíduo que é, como ser dotado de inteligência, muitas vezes têm necessidade de se isolar e falar consigo próprio e é nesses momentos de introspecção que se questiona e que questiona o mundo e saem os porquês. Sabe, não diria instintivamente, porque é dotado de inteligência, que a vida é mistério e a sua origem é insondável. Não chega a conclusão nenhuma, como é óbvio, mas cresce por dentro e sente que há um Deus, algo, uma força Transcendente que criou o Universo e as vidas. Esse Deus não poderá ser nada corpóreo à sua semelhança. Dele sentimos a presença em tudo o que nos rodeia, em tudo que nos cerca, na natureza, no ar que respiramos, na percepção do que observamos seja ou não uma percepção da realidade. No bater do nosso coração e na forma reflexiva como respiramos!

Ser-se muçulmano, cristão, hindu não me diz grande coisa, são opções, escolhas de livre ou imposta vontade. Respeitar e estar conforme à natureza para mim é que é o mais importante. Será uma prática que está de acordo com o sentido de quem nos criou. Não sou perfeito, infinitamente longe disso, mas o simples facto de estar a escrever isto que me sai da alma, dá-me esperança de ser menos imperfeito amanhã.

A todos desejo nesta Páscoa cristã, um bom fim de semana de paz consigo próprios e com tudo o que vos cerca.

João Andarilho.



quinta-feira, 18 de abril de 2019




LISBOA COM HISTÓRIA

Logo ao lado do antigo Braganza Hotel, saindo da Rua Vítor Cordon, entramos pela Rua António Maria Cardoso abaixo em direcção ao Chiado. Chiado Terrace e São Luíz Cine, eram duas casas de cinema que enchiam de gente esta rua do centro de Lisboa. A primeira construída de raiz em 1908 e a segunda, adaptada ao cinema em 1928. Metropolis, de Fritzlang, foi o primeiro filme em cartaz.
Actualmente, o Chiado Terrace é o Consulado-Geral do Brasil.


Nesta rua, funcionou também, até ao 25 de Abril de 1974, a famigerada sede da polícia política do regime fascista, a PIDE/DGS, agora transformado em condomínio de luxo, certamente em homenagem à tortura a que foram submetidos milhares de presos políticos.




A António Maria Cardoso, a Vítor Cordon e a Paiva de Andrada, são três ruas cujos nomes têm a ver com a resposta de Lisboa ao Ultimato inglês de 1890, dado tratarem-se de três exploradores da chamada áfrica portuguesa e que baptizaram, assim, três dos arruamentos da nossa capital.

 A meio desta rua, entroncamos, ainda, com umas escadinhas, a que foi dado o nome de Travessa dos Teatros e que nos levam até ao Largo do Picadeiro mais abaixo.


Chegados ao Largo do Chiado, cumprimentamos António José Chiado, poeta do séc. XVI, na pessoa da sua estátua, que acena prazenteiramente ao poeta Pessoa que, à sua frente, bem sentado e de perna cruzada, aguarda por uma "bica" na Brazileira e finge ignorá-lo.








Decidimos, então, descer a Rua Garret, que se mostrava a abarrotar de turistas, vindos certamente de longínquas paragens, curiosos das nossas gentes e costumes e deparamos com casas cheias de tradição, como são a Paris em Lisboa ou a Livraria Bertrand.

 



 Ao fundo, divisa-se já a frontaria dos outrora famosos Armazéns do Chiado.


Viramos à esquerda e caminhamos pela Rua do Carmo em direcção à Praça D. Pedro IV, mais conhecida como Rossio. Sim, porque uma cidade que se preze tem que ter obrigatoriamente o seu Rossio, mas antes, namoramos com os armazéns Grandela e esticamos o pescoço para alcançar o topo do Elevador de Santa Justa. Não sei como aguenta o peso de tanto turista, tal era a fila para comprar o respectivo bilhete de acesso. 




Sempre por bom caminho seguimos e, finalmente, o Rossio, meta a alcançar, apinhado como de costume. A fome já subsistia, daí que resolvemos petiscar bem no centro da praça, nas barracas de comes e bebes que por estes dias montaram entre os dois lagos do largo e que, assim, deram bastante jeito. 



Olhando rapidamente o perímetro da praça, demos conta que todo o quarteirão de casario que vai da antiga pastelaria Suiça até à antiga Casa Moderna se encontra encerrado, uma vez que, igualmente, vai surgir um empreendimento de luxo para português ver.
Felizmente e olhando pela Rua da Betesga acima, se divisa o Castelo de São Jorge, património nacional e que dificilmente poderá ter semelhante destino, penso eu de que. A ver vamos…

João Olíssipo




TAINADAS


É notícia recente que o antigo Braganza Hotel, na Rua Vítor Cordon, onde Eça, Ortigão ou Junqueiro se juntavam em alegres Tainadas, foi completamente remodelado, dando origem a apartamentos de luxo. Designa-se, agora, esse empreendimento de Duques de Bragança Premium Apartments. Chique…

Constata-se, assim, que a abastada rapaziada que para ali vai tainar, nada terá a ver com a erudição literária e estilo de vida apanágio dos nossos excelsos escritores  de antanho. 
Será mais gente cheia de "guito" e com vontade de  triplicar o investimento à custa da apregoada hospitalidade das nossas gentes e da atracção e beleza exercidas pela nossa bela capital.



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À época (finais do séc. XIX), o Braganza Hotel, era um local de repouso de muitos ilustres viajantes, nacionais e estrangeiros, que demandavam à cidade. 
Braganza Hotel (delimitado a azul)
Ficou também para a história como sendo um dos locais onde se reunia, semanalmente, o grupo "Os Vencidos da Vida". Eram eles, Guerra Junqueiro, António Cândido, Conde de Sabugosa, Conde de Arnoso, Carlos Lima Mayer, Carlos Lobo d´Ávila, Conde Ficalho, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Eça de Queiróz e o Marquês de Soveral, uma belíssima selecção.


Dizia Fialho de Almeida: " Dúzia e meia de ratões que, quando juntos, o que pretendem é jantar; depois de jantar, o que intentam é digerir; e digestão finda, se alguma coisa ao longe miram, tanto pode ser um ideal, como um Water-closet." ao que disparava Eça, numa resposta « à ressoante publicidade  que a imprensa erguia em torno do grupo jantante» : " O que é estranho não é o grupo dos Vencidos - o que é estranho é uma sociedade de tal modo constituída que no seu seio assume as proporções de um escândalo histórico o delírio de onze sujeitos que uma vez por semana se alimentam".

A nossa literatura, felizmente, teve, apesar da monarquia reinante e ao contrário da ditadura da república no século seguinte, liberdade de pensamento. Daí terem aparecido pensadores,  poetas e escritores de grande qualidade literária, que fazem parte do nosso acervo cultural, de que são exemplo os "Vencidos da Vida".

João Bertrand

quarta-feira, 17 de abril de 2019



ORPHANED LAND

Num mundo pateticamente governado por gente manifesta e materialmente incapaz, onde são promovidas e executadas acções genocidas contra povos inocentes em nome de interesses poderosos e belicistas, como oásis encontra-se sempre alguém que resiste e diz não, este não é o caminho, há que agitar consciências e alertar.

A música é e sempre foi um dos instrumentos privilegiados para passar a mensagem. No caso concreto e em consonância com o descrito, a música através de uma banda israelita de nome ORPHANEAD LAND, formada em 1991, é conhecida no universo musical pelo seu estilo Metal e tem esse paradigma. Tem a particularidade de ter uma sonoridade muito imbuída de musicalidade árabe. Do pouco que conheço da banda agrada-me particularmente este tipo diferente do metal tradicional. Aliás eles próprios se intitulam do Metal Oriental.

A mensagem que partilham é uma mensagem positiva e pacífica e ao longo dos seus cinco álbuns produzidos, têm sido fiéis a este conceito, unindo povos independentemente da religião, cor ou país, contribuindo incansavelmente para aproximar pessoas e é também inspirada nos escritos de Platão e em inspirações frustradas de muitos revolucionários pacíficos que enchem a nossa história.

É formada pelo líder e vocalista, Kobi Farhi, baixista Uri Zelha e pelos guitarristas, Chen Balbus, Idan Amsalem e Mata Shmuely.

É o próprio vocalista que diz: "eu diria que os membros da nossa banda são os israelitas mais famosos do mundo árabe" E noutro passo: " essas conquistas, os prémios de paz que recebemos e o facto de estarmos a fazer um trabalho melhor que o nosso Ministério dos Estrangeiros, talvez signifique que sejamos os verdadeiros embaixadores do nosso país. Somos os únicos a criar um diálogo e amizade através da música".

E continua:

"Inspirados pelos escritos de Platão e as aspirações frustradas de revolucionários pacíficos estamos zangados, sim, com os governos, a mídia e toda a lavagem cerebral que se pode pensar " prossegue, "Estamos presos num sistema que simplesmente se tornou mais inteligente. A liberdade é um pró-form. Os imperadores continuam a ser imperadores e não importa o quão longe a humanidade tenha ido em tecnologia ou ciência ou qualquer outra coisa.  Quando vemos como um ser humano trata outro, ainda estamos no mesmo lugar. Estamos a ser drogados pela mídia com folclore, que nos mantém longe daquelas coisas que são realmente importantes. Lemos e sabemos mais sobre a idiota da Kim Kardashian do que sobre os miúdos que estão a morrer em África, porque não têm água potável para beber. Einstein disse uma vez: o mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que assistem sem fazer qualquer coisa , somos os que têm medo da luz, como os homens das cavernas de Platão, como os filhos de Israel que não queriam abandonar a sua vida de escravidão no Egipto." 


Diz, ainda: 

"Quando estou a escrever música com a banda, sempre tentei descobrir o porquê da humanidade ser incapaz de sair do ciclo de guerras e derramamento de sangue e do ego. Não é devido à falta de soluções. Há muitas soluções. O maior problema é que as pessoas não querem enfrentar esses problemas. O nosso sistema educacional ensina-nos trigonometria, mas não sobre comportamentos humanos, aprendemos sobre histórias sanguinolentas e intermináveis,  mas não sobre como promover um diálogo, como ouvir uns e outros. 
Se olharmos para a história da humanidade, há um padrão. Sempre que uma figura revolucionária surgiu, seja Sócrates, Jesus Cristo, Che Guevara, Martin Luther King, Mahatma Gandhi ou muitos outros, todos eles foram assassinados. É um padrão que Platão reconheceu há 2500 anos e pode-se  ver que ainda estamos presos nisso."

E finaliza: 

" Tive uma conversa com um fã da Síria. que me disse o quão importantes somos, mas eu respondi-lhe: ' não sei se somos tão importantes, uma vez que não salvámos a vida de um miúdo na Síria... ' o que é verdade ", observa. "Então ele disse:" Talvez não tenha salvo a vida de uma criança, mas deu esperança a muitas pessoas. " Isso é muito mais do que nada e devemos respeitar. Eu ficaria feliz se  ORPHANED LAND pudesse apenas desempenhar um papel de mostrar às pessoas que há outra maneira e que podemos sair da escuridão e ir para a luz"

"Unsung Prophets & Dead Messias, promete ser um dos mais celebrados trabalhos da banda.

A acompanhar sem dúvida! 

João Shalom







segunda-feira, 15 de abril de 2019




LINGUAREJAR


Sem pôr nem dar! Segundo Helena Sacadura Cabral, hoje não se fala português... linguareja-se e dá alguns exemplos:

"Desde que os americanos passaram a chamar aos pretos, afro-americanos, com vista a acabar com as raças por via da gramática, isto tem sido um fartote pegado!

- As criadas dos anos 70 passaram a empregadas domésticas e preparam-se agora para receber a menção  de auxiliares de apoio doméstico;

- De igual modo, extinguiram-se das escolas os contínuos, que passaram todos a auxiliares de acção educativa e agora são assistentes operacionais!

- Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por delegados de informação médica!

- E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em técnicos de vendas!

- O aborto eufemizou-se em interrupção voluntária da gravidez!

- Os gangs étnicos são grupos de jovens!

- Os operários fizeram-se de repente colaboradores!

- As fábricas, essas, vistas de dentro, são unidades produtivas, vistas da estranja, são centros de decisão nacionais!

- O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo lugar à iliteracia galopante! 

- Desapareceram dos comboios as e 2ª classes, para não ferir susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por impercrustáveis necessidades de tesouraria, continuam a cobrar-se preços distintos nas classes conforto e turística;

- Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes, crianças irrequietas  e terroristas; diz-se, modernamente, que têm um comportamento disfuncional hiperactivo

- Do mesmo modo e para felicidade dos encarregados de educação, os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, crianças de desenvolvimento instável;

- Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado invisual. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o politicamente correcto marimba-se para as regras gramaticais...!)

- As putas passaram ser senhoras de alterne;

- Para comporem o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em implementações, posturas pró-activas, políticas fracturantes e outros barbarismos da linguagem!

- E assim linguarejamos o Português, vagueando perdidos entre a correcção política e o novo-riquismo linguístico!"

E conclui:

"Estamos tramados com este novo português; Não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress!

Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma politicamente correcta!

Hoje não se fala Português... linguareja-se". 




*

Bateu na mouche esta célebre economista, professora, jornalista e escritora. Hoje em dia é confrangedor ouvir este linguarejar insuportável. Fica-se com os cabelos em pé perante tanto atropelo à nossa língua. Todo ele soa a falso, é medíocre e é mais um mau sintoma da sanidade mental da nossa civilização.

Prefiro ouvir uma boa "caralhada" que, sim, é autêntica a toda uma verrobeia falsa e politicamente correcta.

Mantenham-se originais e verdadeiros, falem correctamente o Português. Viva a nossa língua. Viva o Português!

João de Deus













domingo, 14 de abril de 2019






REFLEXÃO


"A formiga, com raiva da barata, votou no insecticida. 
Todos morreram, inclusive o grilo que se absteve do voto"

Frase de campanha de Fernando Haddad, candidato do PT nas últimas eleições presidenciais no Brasil. 

Para reflectir 

João Andarilho 


sexta-feira, 12 de abril de 2019



CADELA MAY



Falando caninamente, o cão Moreno entregou à cadela May que entregou ao Trump(a), o suspeito do costume e o suspeito do costume, para mal dos pornográficos pecados que pesam sobre os ombros de gente canalha que tem o poder neste mundo, é alguém com bolas grandes de nome Julian Assange, fundador da Wikileaks.


WIKILEAKS


É uma organização sem fins lucrativos, que publica informação secreta, classificada e de origem anónima. A sua actividade teve início em 2006, na Islândia e calcula-se que tenha uma base de dados de cerca de 10 000 000 de documentos. O que move à sua perseguição, nomeadamente por parte de governos "democráticos" e  democráticos, é a denúncia permanente de negócios ilícitos por parte das "democracias", quais sejam as do Império do Mal ou das grandes potências ocidentais e daquele outro estado legítimo e "democrata" que ocupa a Palestina. Tais negócios gravitam à volta da venda ilegal de armamamento, narcotráfico e outras bagatelas como o atropelo escandaloso dos direitos humanos por parte das tais "democracias".
Julian Assange  é um herói, porque teve a coragem de denunciar todos estes atropelos com o impacto que tal denúncia tem junto da população mundial. Peça incómoda que foi traída pelo tal cão Moreno, a troco de umas migalhas do Império do Mal e também pela tal supra cadela May, soberba lambe-botas do comissário do dito império.


A ver vamos como isto vai terminar. Uma coisa é certa, não vai ser com a detenção do seu fundador, que a Wikileaks vai acabar, antes pelo contrário. É um alto serviço prestado pela organização em defesa das legalidades, denunciado todos os atropelos feitos contra a humanidade.

Um bem haja Julian Assange.

João Assange 



PORQUÊ A ESCRITA?

« Porque não podemos limitar-nos a viver» escreve a cantora Patti Smith, nas páginas finais do seu novo livro "Devoções".

Um dia irei escrever um livro, pelo menos gostaria. Não sei se irei ser suficiente maduro para o fazer e desconheço se terei capacidade ou qualidade literária. Nunca tentei mas não deixa de ser uma tentação. Sinto que, de momento, não estou preparado. Penso que, a suceder, a prosa precederá de um impulso, de uma necessidade interior, de um chamamento. De qualquer forma essa necessidade, a surgir, seria um desafio e uma resposta de e para mim. Sem pretensões de afirmação perante ninguém. O livro iria ser introspectivo e uma necessidade espiritual.

Vem isto a propósito da prioridade que deveria ser dada à leitura junto da nossa juventude, nomeadamente em casa com incentivo dos pais e nas escolas, fazendo parte da matéria curricular. Penso que hoje se lê mais do que há uma década atrás. Porém, se compararmos o compromisso com a leitura e o hábito de ler em países mais avançados, nomeadamente do norte da Europa, Canadá, EUA, Austrália, Nova Zelândia, ficamos muito na cauda. 




No próximo dia 23 de Abril, a propósito do dia mundial do Livro e com o patrocínio do Plano Nacional de Leitura, vai realizar-se em Lisboa uma marcha pela leitura, que partirá da Praça Luís de Camões e seguirá pelo Chiado, com paragem para leituras em voz alta nas livrarias BD Mania, Bertrand, Férin e FNAC. Será a celebração do livro e do prazer da leitura.

O Livro é aprendizagem, é aquisição de conhecimento. Promove a ruptura com a ignorância, derruba atavismos e torna-nos mais preparados como seres humanos. Torna-nos mais humanos, mais compreensivos e mais comprometidos com o nosso mundo, com as pessoas. Mais alertas, mais atentos.

Amigo leitor, se não é assíduo na leitura, comece a ler. Vai ver que é um hábito saudável e prazenteiro. Ponha de lado o vício da internet e das redes sociais, invista na sua pessoa e seja feliz.

BOAS LEITURAS

João Mann

quarta-feira, 10 de abril de 2019




PORTARIA


Reza a estória que terá existido uma portaria municipal, algures perdida no tempo, feita para enquadrar os bons costumes e precaver atentados à moral pública, lá para os idos dos anos cinquenta do pretérito século.

Rezava assim:

"Portaria nº 69035 - Policiamento de Logradouros Públicos e Zonas Florestais

Verificando-se o aumento de actos atentatórios à moral e aos bons costumes, que dia a dia se vêm verificando nos logradouros públicos e jardins e, em especial, nas zonas florestais Montes Claros, Parque Silva Porto, Mata da Trafaria, Jardim Botânico, Tapada da Ajuda e outros, determina-se à polícia e guardas florestais uma permanente vigilância sobre as pessoas que procuram frondosas vegetações para a prática de actos que atentem contra a moral e os bons costumes. Assim e em aditamento àquela portaria nº 69035, estabelece-se e determina-se que o artº 48º tenha o cumprimento seguinte:

1º - Mão na mão------------- 2$50
2º - Mão naquilo-------------15$00
3º - Aquilo na mão----------30$00
4º - Aquilo naquilo----------50$00
5º- Aquilo atrás daquilo---100$00

Com a língua naquilo, 150$00 de multa, preso e fotografado.

Lisboa, 2 de Janeiro de 1953."

Não sei se a dita portaria terá algum dia sido revogada mas que dava um jeitaço ao Centeno dava e decerto contribuiria para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e ao controlo do déficite público.

A bem da nação

João Cáustico

terça-feira, 9 de abril de 2019




O VALE DA LUA DE PRATA


A noite, a lua e o luar, fascinação, deslumbramento! Há uma paz, uma tranquilidade e mistério. De repente estou só, apenas eu. O filtro é o luar, sentimentos à flor da pele, extraio de todo o meu âmago, soltam-se os demónios. Em êxtase sonho porque nada o impede, apenas eu... só no mundo dou largas ao sonho. Corro cego num vale de Luz, prenhe dos raios daquela Lua de Prata! No Vale da Lua de Prata o infinito alcanço, livre finalmente, voo! Há paz, o Eu, o Eu…

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João Andarilho

segunda-feira, 8 de abril de 2019




PRAGA


Não é a capital da República Checa apesar de também ser a capital da República Checa. Estou a falar-vos da nova praga que atrapalha o pacífico andar num qualquer passeio das ruas das nossas cidades. São as silenciosas trotinetes eléctricas que, tal como bandos de pombos poisam em tudo que é local de usufruto público. Ele são passeios, jardins, ciclovias, inclusivamente no asfalto das ruas impedindo a passagem dos transeuntes e dos próprios trotineteiros. Irra! Estes simpáticos meios de locomoção, por sinal, são um meio já centenário embora só recentemente tenham tomado de assalto as nossas cidades. Por um lado ajudam à locomoção de pessoas de uma maneira limpa e não poluente mas, por outro lado, ajudam à sedentarização uma vez que não promovem o exercício através do simples acto de caminhar. Mas não vale a pena ir por aí que a conversa dá pano para mangas.
No fundo, onde pretendo chegar nesta intervenção é na falta de civismo que é apanágio do nosso povo, dos mais jovens aos menos jovens e isso aflige. Outro aspecto tem a ver com a questão da responsabilidade em caso de acidente contra terceiros. O que será que acontece se um dia levar com um pombo destes em cima de mim. Acreditem, parece uma ave ligeira mas longe disso, é compacta robusta e pesada e à velocidade que vai, atingindo uma pessoa ou uma criança pode resultar em ferimentos graves ou a própria morte. Não sei se as autoridades já pensaram no assunto, se os responsáveis pela adopção de legislação já estarão em cima destas trotinetes  do ponto de vista da segurança ou da falta dela.


Entretanto amigos, o melhor é espreitarmos melhor à nossa volta não vá a providência reservar-nos uma desagradável surpresa ou um encontro imediato do terceiro grau. Mal por mal prefiro uma cagadela de pombo.

João Precavido

domingo, 7 de abril de 2019



O LUCAS E O GIL


Ontem fui assistir a um concerto de uma banda que, sinceramente não conhecia. Mas como estava incluída num pacote de três concertos, de bom grado comprei e adquiri. 
Ainda bem que assim foi, porque, após o interregno musical e uma vez que o estômago reclamava, fomos à Maria Bonita e reencontrámos uns maravilhosos hambúrgueres dos quais somos clientes ocasionais mas indefectíveis. Já por lá satisfizemos o estômago em algumas ocasiões e até já damos de barato que os simpáticos rapazes que nos atendem acabem por memorizar as nossas caras atentas as vezes que lá fomos. Tanto assim é que, o primeiro comentário que faço à laia de cumprimento é um " viva o Corinthians". Azar dos azares responde-me sempre o mesmo moço brasileiro, o Gil, com alguma azia, uma vez que é do Flamengo. O companheiro dele é o Lucas e esse, sim, é corinthiano. Mas faço sempre confusão. 
Conversa puxa conversa e porque felizmente o meu amigo João é extrovertido, bem disposto e dispõe bem as pessoas, a páginas tantas o Gil, o mais extrovertido dos moços que nos atenderam, sai-se com esta: "vocês podem não acreditar, mas dos anos que ambos estamos aqui nesta roulote a atender as pessoas que até nós se dirigem, vocês são os mais simpáticos e com quem connosco dialoga de uma maneira franca e aberta". Lembram-se perfeitamente da primeira vez que lá fomos e da conversa que com eles tivemos, que tínhamos vindo de Lisboa, de um concerto do Van Morrison! Fantástico!
Isto tocou-nos e não preciso de dizer mais. Tudo isto reflete o tipo de sociedade em que nos transformámos. Gente, juventude vazia, oca, sem valores diria mesmo que perdida que não consegue encontrar uma bóia de salvação. Isto dói, comove.
Por um lado, esta revelação do Gil encanta-me e certamente encantará ao amigo João, por ser um reconhecimento da nossa integridade como seres humanos mas, por outro lado, entristece-nos profundamente pelo que encerra de solidão, de superficialidade, de falta de solidariedade, de desprezo com o próximo, de racismo e/ ou xenofobia da nossa sociedade, da nossa juventude. Bem dito bem feito, logo ali apareceram meia dúzia de jovens e é como se tivessem aparecido meia dúzia de zombies, de tristes e o futuro vai ser isto! Estamos tramados...

Os PAUS, é o nome da banda, uma orgia de bateria. A rever...



João Melómano



  SÃO JOÃO   "23.6 À meia noite de hoje (ontem) acendem-se os fogos. A multidão reúne-se em redor das altas fogueiras. Nesta noite limp...