CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Diário da República n.º 86/1976, Série I de 1976-04-10
Aventura, arte, literatura, coisas da vida, banalidades e curiosidades
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Diário da República n.º 86/1976, Série I de 1976-04-10
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Diário da República n.º 86/1976, Série I de 1976-04-10
EUGÉNIO RUIVO/CAXIAS /AUSCHWITZ/NAZISMO
Na esteira dos 75 anos da libertação do campo nazi de extermínio humano de Auschwitz, na Polónia, pelo exército vermelho soviético, venho transcrever um pequeno depoimento escrito pelo Eugénio Ruivo, preso político do regime fascista de Salazar e Caetano, prestado na sua página pessoal do FB.
É com gosto que partilho a dor por que passou este camarada, para que tudo aquilo que representa e representou a ideologia fascista e nazista não caia no esquecimento, para além de ser um enorme prazer encontrá-lo nas ruas deste país, correndo ao lado de tantos atletas como ele, como eu, sempre empunhando um cartaz com a palavra de ordem " Abaixo o Fascismo, Viva o 25 de Abril"e com a fotografia do momento da sua libertação da Ala Sul da Prisão de Caxias:
" Dia 27 Janeiro de 1971, pelas 10:00 h sou preso pela PIDE, como operário (electricista de automóveis) na Austin à Rua das Laranjeiras perto de Sete-Rios em Lisboa, colocado numa viatura preta, antes haviam feito uma busca no armário das ferramentas, onde me apreenderam uns textos sobre sindicalismo e ao armário do vestiário. Dali enviado para a sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Acusado de ser do PCP. 10 horas de interrogatório consecutivo, onde os pides me pontapearam, prostraram no chão, com pontapés em diferentes partes do corpo. Á meia-noite sou transportado num carro celular e enviado para a cadeia do Forte de Caxias. Mais dois dias de intervalo seguido, de mais 15 h de interrogatório. De novo a tortura física e psicológica com os pides a renderem-se de 3 em 3 horas. Dois dias de intervalo e pelas 18:00 quando jantava na cela de isolamento, o guarda prisional abre a escotilha e diz-me - prepare-se para ir à policia (não diziam DGS/PIDE). Disse para comigo, agora as coisas vão doer mais... daí já na PIDE, passados 2 h de interrogatório após vários espancamentos e tortura psicológica, enfiam-me pelas costas abaixo água gelada... entra o famigerado sub. inspector Tinoco com as mãos na cabeça, a perguntar o que se tinha passado. Olho-o do chão, para logo a seguir me dizer que estava preocupado com a minha mãe por ser muito doente, para logo a seguir perguntar se era do SCP ou do SLB. De repente tive uma crise nervosa, ficando inconsciente... creio de ter sido visto pelo médico psiquiatra da cadeia de Caxias de nome Leão de Miranda...não sei quanto tempo passou, se 1 dia se dois dias, sei que deitado numa cama da cela de isolamento já em Caxias, pela madrugada acordei e com os olhos semicerrados vejo à minha cabeceira estavam dois pides. Após 10 minutos, os membros superiores começam a torcer-se num movimento sem controlo, e de repente os pides chamam o chefe dos enfermeiros, levo uma injeção e não sei quanto tempo estive naquela situação. Ao fim de 10 dias sou libertado da sede da pide, com uma caução de 3000$ e quase que não podia andar... foi o meu pai e a minha mãe buscar-me. Em Março sou de novo preso pela pide, pelo facto do tribunal ter decidido aumentar-me a caução para cerca de 30.000$... Estive preso durante uma semana, mas antes antevendo o que poderia acontecer, estive com o cantor José Afonso perto onde é hoje o Corte Inglês, e ao contar-lhe o que poderia vir a acontecer, sugeriu-me editar-se centenas de postais com uma pomba branca em cima de um capacete de guerra, para adquirir dinheiro, igualmente a Comissão Nacional de Socorro Aos Presos Políticos (CNSPP) através de dois membros a Maria Eugénia Varela Gomes e da Cecília Areosa Feio... o Zeca Afonso de um Lado e a CNSPP do outro conseguiram arranjar os 30000$ e pagar a fiança, tendo ficado preso durante uma semana. Seguidamente e m 20 de Novembro de 1971, por ordem do tribunal sou de novo preso pela PIDE, e colocado na prisão do Forte de Caxias até ao dia 15 de Junho de 1972, data do meu julgamento de vários outros antifascistas como: Antonio Fernandes Gomes, Fernando Carlos Soares Pinto, Raimundo Manuel Marques dos Santos, Eugénio Manuel Pacheco da Costa Ruivo, Lino António Marques de Carvalho, Cipriano Dourado, António Fonseca Ferreira, José Alberto Campeão Rosa Vila. Foram nossos advogados: José Carlos de Vasconcelos, Jorge Fagundes em substituição de Jorge Sampaio (meu advogado), Correia do Amaral, Joaquim Mestre, Alda Vidigal e Maria Lucília Santos. Apanhei 20 meses de prisão remível a dinheiro... com vários anos de direitos políticos cortados. De novo no dia 1º de Maio de 1973, pelas 7:30 h sou novamente detido em casa pela PIDE, juntamente com o meu irmão e o meu pai. O meu pai foi liberto ao fim de 15 dias, e Eu e o meu Irmão que teve (4 dias de tortura do sono) ao fim de 21 dias com uma caução de 7.500$00. Ninguém falou na PIDE. Em 6 Abril de 1974 numa reunião da Oposição ao regime fascista, na Cooperativa Forja em Benfica perto do cemitério de Benfica, juntamente com vários dezenas de antifascistas fomos presos pelo capitão Pereira da policia de Choque e enviados para o Governo Civil. O capião Pereira disse em vóz alta - eu não sou o capitão Maltez (famigerado Cmdt. da Polocia de Choque...). Entretanto no trajecto dentro das carrinhas da policia junto a Sete-Rios perto do jardim Zoológico, vejo o jornalista José João Louro do Diário de Lisboa, que reconhecendo-nos, dá uma volta, e corre em direcção a Sete-Rios. Faz uns telefonemas, e quando chegamos ao Governo Civil, já haviam dois membros da CNSPP a indagar junto das autoridades o que se estava a passar. Somos identificados, as mulheres são separadas dos homens, e todos fomos em carros celulares para a cadeia do Forte de Caxias. Daí entramos na cadeia, indo por um túnel ao lado esquerdo quando se entra e colocados em celas amplas que já não eram utilizadas desde os anos 60. Era um espaço sem ventilação de ar, escorria água pelas paredes, havia as tarimbas só com colchão... indescritível. O Rubem de Carvalho e outro camarada porque sofriam de asma, tinham que vir perto da entrada da cela respirar. Assim estivemos durante alguns dias naquela situação... passando em seguida em nos dividir para outras celas de isolamento. Fui parar a uma cela com mais 3 antifascistas incluindo o Ruben de Carvalho. A dada altura junto da grade diz-me: Coragem, Não se fala. Dali ao fim de alguns dias vou para uma cela de isolamento com o estudante da direcção da Associação de Estudantes de Económicas o Pedro Ferreira. Durante a nossa prisão, pudemos contactar com o pau de uma vassoura as mulheres que utilizavam o recreio por cima da nossa cela, com uma anifascista de nome Fátima e saber da prisão de muitas mulheres que se encontravam do lado norte do Forte de Caxias. Tinha-mos de ter o cuidado com o processo de contacto, porque se o guarda prisional detetá-se ambos iriamos parar ao famigerado "Segredo", local isolado de tudo. Dia 23 de Abril o Pedro Ferreira é libertado. No entanto no dia 24 já não tive recreio (tinha 1/2 hora) para andar de um lado para o outro, num espaço de 10x6metros, com muros altos vigiados pela GNR. Notei nos guardas um grande semblant, via carros da pide a andar de um lado para o outro assim como alguns pides, visto eu estar virado para Monsanto. De madrugada do dia 25 Abril pela madrugada, oiço um grito pelas grades, não percebi o que fora, mas já não dormi. Pelas 7:00 horas do dia 26 de Abril, de pijama e gola alta, sento-me numa cadeira e observo que já não era a GNR a guardar a prisão mas sim uma força de Fuzileiros do MFA. Mas o que se passa? Questionei para mim próprio. Entretanto começo a olhar em direcção do lado esquerdo do Estádio Nacional e começo a ver uns "Pontos Negros" que com o andar do tempo, se tornam cada vez mais numerosos, e assim sucessivamente... assim continuo e começam alguns presos a gritar pelas grades. de um Claxon de automóvel pude ouvir os sons de código dizendo: - ter havido um golpe de Estado, o que não se sabia bem o que era. Por volta das 9:30 h, olho para baixo e vejo Jorge Sampaio, Sofia de Melo Bryner, Pinto Bandeira, José Francisco, José João Louro, Francisco Sousa Tavares, Joaquim Mestre, Maria Lucília Santos, José Carlos Vasconcelos, Jorge Facundes, Manuel João da Palma Carlos, Maria Eugénia Varela Gomes, Cecília Areosa Feio, Miguel Sousa Tavares entre outros, é então que por volta das 9:45 h, se abre a escotilha da cela, e vejo um oficial do MFA de barbas, a perguntar-me o nome e do que era acusado. Disse-lhe o nome e era acusado de pertencer ao PCP, abre a cela e diz-me: - venha daí e é então que o vejo a abrir outras celas, e um preso que se recusa a dizer o nome (mais tarde vim a saber que se tratava de um funcionário do PCP que estava na tortura do sono José Carlos de Almeida, último preso a ser detido, que nem configura na lista de presos) e as celas vão-se entretanto abrindo e a alegria a emoção vão-nos tomando de forma indescritível, sucedem-se abraços... então às ordens do oficial do MFA encaminhamo-nos para as escadas, descemos e vimos outros amigos e camaradas, saímos da cadeia e vamos para o Hall, onde se encontravam os nossos advogados e jornalistas. A emoção é esfuziante, os abraços sucedem-se e as informações é de que tinha havido um golpe que depunha o regime fascista. Entretanto por ordens da JSN, fomos de novo para as celas da prisão... da prisão ouviam-se milhares de antifascistas a gritar... várias horas nos mantivemos naquela situação, mas gritava pelas grades da prisão... é então que a meio da tarde nos apercebemos que por ordens de Spínola este só queria que alguns presos fossem libertados. É então, que os presos no último piso das celas de isolamento e já com contactos com os restantes presos da cadeia, se tomou a posição unânime: Ou saem Todos ou Não sai Ninguém. Passadas algumas horas, juntamo-nos com os outros amigos e camaradas, e continua a ser indescritível os momentos de alegria, de emoção, de lágrimas, de abraços... e então por força da pressão da população que junto às cadeias de Caxias e em Peniche, e dos oficias progressistas do MFA, que Spínola se vê obrigado em libertar todos os presos políticos, por volta das 0:00 h do Forte de Caxias, e às 0:01 horas do dia 27 Abril de 1974. Fora da prisão corro para o meu pai e para a minha mãe, onde vejo a Helena Pato e tantos amigo(a)s e camaradas a saudar-nos e aos gritos o Povo etá com o MFA. Logo pela manhã começo a ver cravos na G3 do Corpo de Fuzileiros. Aqui fica este apontamento, num dia em que se assinala a Libertação do Campo de Concentração de Auschwitz pelo valoroso Exército Soviético. Fascismo Nunca Mais! 25 Abril Sempre! Viva a Revolução do 25 Abril de 1974! "
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Diário da República n.º 86/1976, Série I de 1976-04-10
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Diário da República n.º 86/1976, Série I de 1976-04-10
MARIA BONITA
Tinha a certeza que ela andava por ali, pairando no ar, enquanto degustava o "burguer" costumeiro acompanhado daquela loira estupidamente gelada. Naquele ponto de encontro habitual, epílogo de mais uma noite de boémia musical, enganava-se o estômago, martelavam-se conversas despiam-se sentimentos confusos. Mas era assim que devia ser, antecipadamente sabíamos que assim seria. A Roullote era um abrigo, era um porto seguro, acabava por ser terra firme numa noite de timbres e guitarradas e alguma boémia bem passada. Maria Bonita de seu nome, era ela que nos amparava, era ela que nos sorria.
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Cópia colorizada extraída da internet |
Nascida em 17 de Janeiro de 1910, Maria Gomes de Oliveira, aliás, Maria Bonita é uma figura que faz parte do acervo histórico nordestino, tendo-se tornando a cangaceira mais famosa do Brasil, exactamente por ter desposado o canganceiro número um conhecido por Lampião. O Cagonceiro era uma espécie de Robin dos Bosques que roubava os ricos, nomeadamente os coronéis e protegia os pobres. Porém, era perseguido por um sem número de actos cruéis praticados sobre as suas vítimas. Maria Bonita e Lampião, acabaram mortos numa emboscada em 1928, perdendo, ambos, literalmente as suas cabeças após serem decapitados. Macabramente foram expostas ao público até aos anos 60 do século passado.
João Andarilho
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Diário da República n.º 86/1976, Série I de 1976-04-10
A PANDEMIA DO MEDO E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS
São dezenas, centenas as opiniões e comentários que nos entram pelos ouvidos ou pelos olhos adentro relativamente à era pandémica por que passamos . Há-os para todos os gostos e pensantes.
Um que mais me terá marcado pela sua acutilância e espírito crítico foi a opinião de Santana Castilho, Professor do Ensino Politécnico, publicada no jornal Público e que passo a transcrever:
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SER PORTUGUÊS É O QUÊ?
É uma pergunta que alimenta uma miríade de respostas. Pensadores, filósofos, historiadores, sobre esta questão formularam os seus pensamentos, as suas doutrinas, as suas verdades. De facto, em todas elas se poderá encontrar fundamentação abalizada para uma resposta concreta. O que se pode dizer é que a origem de se ser de se sentir português vai muito para além do início das conquistas de D. Afonso Henriques, podendo afirmar-se que a sua matriz vem já do período paleolítico, com os caçadores-pintores paleolíticos, as suas antas e os seus menires. Sinto que somos um povo de eleição, um povo que, num tempo de respostas e de grandes desafios, sempre se saiu em grande altura superando mesmo outros povos e outras gentes. Porém, também caímos em longos períodos de estagnação, de retrocesso civilizacional, ao ponto de nos envergonharmos de sermos portugueses, de termos orgulho da pátria e de nos vendermos a gente estranha. Há três elementos essenciais que qualificam a saúde da Pátria: o nacional, o regional e o social. Como diz António Quadros no seu "Portugal, Razão e Mistério", só quando o primeiro prevalece sem ambiguidade sobre os restantes, reconhecendo embora a sua importância, se pode dizer que essa pátria está viva e tem pois, diante de si um futuro. E é esse futuro que, creio, a pátria terá que trilhar porque é hora de mudar de ciclo é hora de voltarmos a ser confiantes nas nossas capacidades, de olhar para a nacionalidade, é hora dos nossos filósofos e pensadores avançarem. Como dizia Álvaro Ribeiro, sem uma filosofia capaz de pensar a profecia e a previsão, sem uma pedagogia capaz de habilitar o homem a enfrentar a conjuntura nacional e internacional, não podemos esperar da política mais do que a improvisação apressada para a solução de problemas urgentes, enunciados à última hora...
João Andarilho
CARLOS DO CARMO
SÃO JOÃO "23.6 À meia noite de hoje (ontem) acendem-se os fogos. A multidão reúne-se em redor das altas fogueiras. Nesta noite limp...